O País acordou ontem estupefacto com mais um episódio pouco edificante da nossa justiça desportiva.
De há muito que os portugueses se interrogavam sobre o porquê desta estranha delonga do Conselho de Justiça, em decidir dos recursos do Presidente do Porto e do Boavista, no âmbito do conhecido processo do “apito final”.
Percebemos agora que nem todos os membros do Conselho de Justiça pareciam estar com muita vontade de decidir.
Já durante a semana a Assembleia Geral da Liga que, também surpreendentemente, continua a ser presidida por Valentim Loureiro, analisara o artigo 51º e o agravamento das penas relativas à corrupção no futebol. Os suspeitos de corrupção, outra vez surpreendentemente, também votaram … Adivinhem como?
Seria, com a devidas distâncias, muito parecido com pôr arguidos criminais a votar eventuais alterações ao código de processo penal, numa comissão presidida por um deles.
Agora temos o, ainda surpreendente, caso do Advogado Gonçalves Pereira, Presidente do Conselho de Justiça da Federação. O Vereador da Câmara de Gondomar, presidida por Valentim Loureiro, que defendeu valorosamente as redes do clube da terra que, já agora, esteve na origem de todo o processo Apito Final, depois de dizer que não tomaria posição neste caso, sustenta agora, surpreendentemente, ter todas as condições de isenção para deliberar e exercer o seu voto de qualidade neste Órgão a que passou a presidir depois de algumas, surpreendentes, peripécias.
Mais ainda, decide unilateral (e, outra vez, surpreendentemente) afastar um dos vogais da deliberação em causa por, vejam lá, entender que este não tinha condições de isenção para deliberar (!!!). Como o dito vogal e seus parceiros do Conselho não foram na coisa e até propuseram a instauração de um processo disciplinar que afastasse o próprio Presidente, então deu rápida e surpreendentemente por terminada a reunião e escapuliu-se com o vice-presidente pela sala fora…
Não estaria certamente a contar que os restantes cinco membros do Conselho de Justiça continuassem a reunião e deliberassem, por unanimidade, não aceitar os recursos de Pinto da Costa e do Boavista, confirmando as penas dadas pelo Conselho de Disciplina da Liga.
E com isto fazendo cair também o, mais que surpreendente, expediente usado pela SAD do Porto de aproveitar o recurso do seu Presidente, com o claro propósito de lançar na UEFA aquela ínfima dúvida (ou, melhor dificuldade) necessária para que esta nada decidisse, antes do pronunciamento definitivo da justiça desportiva portuguesa.
Resta ainda dizer que à luz do direito não há nenhum vício formal nesta decisão unânime dos 5 membros do Conselho de Justiça que, no exercício regular das suas competências, se limitaram a confirmar que houve corrupção consumada, sobre a forma tentada, do Presidente do F.C Porto.
A única dúvida que agora persiste é se a UEFA aplicará ao FC Porto a sanção que já havia decidido pelos motivos agora confirmados, com efeitos a partir desta época ou só o fará para evitar turbulências com efeitos a partir da próxima época.
No meio da surpreendente trapalhada, com um desesperado Gonçalves Pereira a apregoar a nulidade das deliberações (não se sabe bem porquê?), assistimos ao ainda surpreendente (ou talvez não..), silêncio dos Presidentes da Federação e da Liga.
Apesar de todas as “surpreendências” tenhamos confiança naquela sabedoria popular que nos diz que a verdade, como o azeite, vem sempre ao de cima …
António de Souza-Cardoso
PS: Isto foi apenas um pequeno interlúdio na necessidade que continuamos a ter de “Jogar à Bola”. Vamos a isso!