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Novo Benfica

Novo Benfica

06
Jul08

A Hora da Verdade !

António de Souza-Cardoso

 

 

 

O País acordou ontem estupefacto com mais um episódio pouco edificante da nossa justiça desportiva.

De há muito que os portugueses se interrogavam sobre o porquê desta estranha delonga do Conselho de Justiça, em decidir dos recursos do Presidente do Porto e do Boavista, no âmbito do conhecido processo do “apito final”.

Percebemos agora que nem todos os membros do Conselho de Justiça pareciam estar com muita vontade de decidir.

Já durante a semana a Assembleia Geral da Liga que, também surpreendentemente, continua a ser presidida por Valentim Loureiro, analisara o artigo 51º e o agravamento das penas relativas à corrupção no futebol. Os suspeitos de corrupção, outra vez surpreendentemente, também votaram … Adivinhem como?

Seria, com a devidas distâncias, muito parecido com pôr arguidos criminais a votar eventuais alterações ao código de processo penal, numa comissão presidida por um deles.

 Agora temos o, ainda surpreendente, caso do Advogado Gonçalves Pereira, Presidente do Conselho de Justiça da Federação. O Vereador da Câmara de Gondomar, presidida por Valentim Loureiro, que defendeu valorosamente as redes do clube da terra que, já agora, esteve na origem de todo o processo Apito Final, depois de dizer que não tomaria posição neste caso, sustenta agora, surpreendentemente, ter todas as condições de isenção para deliberar e exercer o seu voto de qualidade neste Órgão a que passou a presidir depois de algumas, surpreendentes, peripécias.

Mais ainda, decide unilateral (e, outra vez, surpreendentemente) afastar um dos vogais da deliberação em causa por, vejam lá, entender que este não tinha condições de isenção para deliberar (!!!). Como o dito vogal e seus parceiros do Conselho não foram na coisa e até propuseram a instauração de um processo disciplinar que afastasse o próprio Presidente, então deu rápida e surpreendentemente por terminada a reunião e escapuliu-se com o vice-presidente pela sala fora…

Não estaria certamente a contar que os restantes cinco membros do Conselho de Justiça continuassem a reunião e deliberassem, por unanimidade, não aceitar os recursos de Pinto da Costa e do Boavista, confirmando as penas dadas pelo Conselho de Disciplina da Liga.

E com isto fazendo cair também o, mais que surpreendente, expediente usado pela SAD do Porto de aproveitar o recurso do seu Presidente, com o claro propósito de lançar na UEFA aquela ínfima dúvida (ou, melhor dificuldade) necessária para que esta nada decidisse, antes do pronunciamento definitivo da justiça desportiva portuguesa.

Resta ainda dizer que à luz do direito não há nenhum vício formal nesta decisão unânime dos 5 membros do Conselho de Justiça que, no exercício regular das suas competências, se limitaram a confirmar que houve corrupção consumada, sobre a forma tentada, do Presidente do F.C Porto.

A única dúvida que agora persiste é se a UEFA aplicará ao FC Porto a sanção que já havia decidido pelos motivos agora confirmados, com efeitos a partir desta época ou só o fará para evitar turbulências com efeitos a partir da próxima época.

No meio da surpreendente trapalhada, com um desesperado Gonçalves Pereira a apregoar a nulidade das deliberações (não se sabe bem porquê?), assistimos ao ainda surpreendente (ou talvez não..), silêncio dos Presidentes da Federação e da Liga.

Apesar de todas as “surpreendências”  tenhamos confiança naquela sabedoria popular que nos diz que a verdade, como o azeite, vem sempre ao de cima …

 

António de Souza-Cardoso

PS: Isto foi apenas um pequeno interlúdio na necessidade que continuamos a ter de “Jogar à Bola”. Vamos a isso!

 

 

 

18
Jun08

O "Xico Esperto"

António de Souza-Cardoso

 

 

 

A propósito do artigo de ontem de Miguel Sousa Tavares na Bola, dei comigo a pensar no que mudaria se, como em outras coisas que também eu aprecio (a caça, a boa mesa e o espírito de aventura), o conhecido comentador tivesse a virtude e a graça de ser Benfiquista.

Sem querer (nem poder) imitar o estilo, julgo que o artigo teria o título deste e seria talvez assim:

Todos nós conhecemos a figura do “Xico Esperto”, dos tempos de escola, na adolescência. Também conhecido pelo “carapau de corrida” ou o “espirra-canivetes” o “Xico Esperto” era aquele que quando o professor perguntava “quem foi que ganhou?”, respondia despudoramente “fui eu..”, qualquer que fosse a sua verdadeira qualificação.

Com isso o “Xico Esperto” tentava insinuar-se nas boas graças do poder, como o líder, o chefe de seita, o melhor de todos, pisando os colegas, trapaçando, fazendo batota...

A verdade é que todos sabiam que ele não passava de um arruaceiro preguiçoso e malcriado, que projectava a sua existência medíocre, à custa do copianço, da batota e da má influência que exercia sobre dois ou três microcéfalos que se obrigavam e abrigavam na sua envaidecida protecção.

Enquanto que o “Xico Esperto” era uma figura odiosa para a maioria da turma, causadora de repúdio ou de receio, ele próprio parecia viver bem com isso, porque o seu objectivo era passar de ano, não por mérito, mas pela batoteira imagem de liderança que passava junto dos professores á custa das “xico-espertices” que fazia junto dos colegas.

De há alguns anos para cá o Insigne Clube do Dragão, que tantas justas glórias recolheu nos tempos áureos de Américo de Sá, Pinto de Magalhães ou José Maria Pedroto, transformou-se no “Xico Esperto” oficial do futebol português.

Com a agravante de levar esta “xico-espertice” para esferas internacionais, assim permitindo na fácil confusão da “nuvem por Juno” que se degrade a imagem do futebol português e dos seus agentes.

Sou dos que pensam que o Benfica não teve esta época o merecimento necessário para ir à Liga dos Campeões e que prefiro, com total sinceridade, aquela mais nobre e distintiva posição de declínio de um benefício que não ganhei, nem mereci, no espaço adequado que é o terreno de jogo.

Mas isso não tira que eu não exija à Direcção do meu clube que defenda com intransigência o rigor e a verdade desportiva, lutando abnegadamente para que os “xicos-espertos” sejam definitivamente erradicados do futebol português, sem vergonha de os denunciar de voz alta e cara descoberta, ainda que correndo o risco de que lhes chamem queixinhas.

Quantas queixinhas não faço eu, ou o Miguel Sousa Tavares, contra a desfaçatez da ASAE, o cigarro hipócrita do Primeiro-Ministro, ou tantos outros destemperos à verdade e à justiça que infelizmente se passam no nosso Portugal?

O que Miguel ST se esqueceu foi que o “Xico-Esperto” nasceu primeiro que o Queixinhas.

Fez, á luz da única apreciação jurídica conhecida, batota comprovada e beneficiou de um regulamento iníquo para, em vez de baixar de divisão como devia, perder apenas 6 pontos que não lhe faziam falta nenhuma. Como bom “Xico-Esperto” resolveu estar quietinho, aceitar aquele inócuo correctivo que lhe mantinha a áurea e a garimpa. E até o declarou publicamente, que “nem precisava explicar – estava á vista de todos”, ele apesar de consumadamente corrupto continuava a ser o vencedor, único objectivo de qualquer “Xico-esperto”.

Não recorreu, portanto, aceitando como verdadeira a obscura e terrível acusação que sobre ele pendia. Assumindo-se definitivamente como o “Xico-Esperto” oficial do futebol português.

Miguel ST vem depois tentar salvar as más consequências (designadamente europeias) da “xico-espertice”, falando do princípio geral da não retroactividade da lei penal quando aqui estamos perante um disposição do direito desportivo que não está obviamente subsumida a esse princípio geral. Por irresistível “xico-espertice”, Sousa Tavares chama-lhe “direito punitivo”, para tentar abrigar neste mais abstracto conceito o direito penal e o desportivo. Também a mim me repugna a retroactividade da lei, mas a verdade é que esta pode ser accionada pelo Direito desportivo, como foi e seria se, entretanto, não tivessem ocorrido outras “xico-espertices”.

A principal, foi a intolerável pressão exercida sobre a Federação Portuguesa de Futebol, instituição que é dirigida por um Presidente que parece frouxo e vulnerável. Pressão cirurgicamente feita na entrevista á SIC, ao assessor jurídico João Leal e ao fax liso que enviou para a UEFA,  a pedido desta. João Leal que á imagem do seu Presidente não aguentou da tripa perante a habitual arruaça do “Xico-Esperto”, acabou por vestir a pele de outro personagem do nosso tempo de escola – o “geleia”. Aquele desgraçado que vivia aterrorizado à mão do Xico-Esperto e fazia tudo para não o contrariar ou atingir.

 João Leal e Gilberto Madail – os “geleias” oficiais do futebol português, fizeram o mesmo, lavaram as mãos num sintomático “não me comprometas” dizendo à UEFA que nada sabiam sobre trânsito em julgado nenhum, ou sequer sobre os factos que levaram à condenação do Futebol Clube do Porto.

E foi por isso, e só por isso, que a UEFA, mais preocupada em organizar sem sobressaltos a próxima “Champions” resolveu adiar aquilo que os primeiros responsáveis e interessados – os “Geleia” da Federação Portuguesa de Futebol, negavam conhecer e insistiam, também, em adiar.

Por isso se o Miguel Sousa Tavares confessa que o FCP deveria ter recorrido, aceitando que juridicamente com essa omissão suscitou o trânsito em julgado da decisão do Conselho de Disciplina da Liga então, sem “xico-espertices”, tem é que reconhecer que a UEFA decidiu mal, ou foi mal influenciada na decisão de não aceitar como provado o referido transito em julgado. Única razão pela qual não condenou, ainda o FC Porto.

Mas, agora para todos os “Xico-Espertos”, atenção: ninguém ilibou o F.C. Porto, nem ele próprio, como me parece que se acabará por provar.

 Por isso, “no mais tarde ou mais cedo”, em que qualquer “Xico Esperto” é julgado e punido, aguardarei tranquilamente por um desfecho justo e verdadeiro, continuando a exigir á Direcção do Benfica que, para além de ganhar campeonatos (que é a sua tarefa primeira), tenha a coragem de denunciar sempre os “Xicos-Espertos” desta vida.

Porque, para mim, quem denuncia “Xicos-Espertos”não é queixinhas é Valente!

 

António de Souza-Cardoso

 

 

 

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