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Novo Benfica

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18
Jun08

O "Xico Esperto"

António de Souza-Cardoso

 

 

 

A propósito do artigo de ontem de Miguel Sousa Tavares na Bola, dei comigo a pensar no que mudaria se, como em outras coisas que também eu aprecio (a caça, a boa mesa e o espírito de aventura), o conhecido comentador tivesse a virtude e a graça de ser Benfiquista.

Sem querer (nem poder) imitar o estilo, julgo que o artigo teria o título deste e seria talvez assim:

Todos nós conhecemos a figura do “Xico Esperto”, dos tempos de escola, na adolescência. Também conhecido pelo “carapau de corrida” ou o “espirra-canivetes” o “Xico Esperto” era aquele que quando o professor perguntava “quem foi que ganhou?”, respondia despudoramente “fui eu..”, qualquer que fosse a sua verdadeira qualificação.

Com isso o “Xico Esperto” tentava insinuar-se nas boas graças do poder, como o líder, o chefe de seita, o melhor de todos, pisando os colegas, trapaçando, fazendo batota...

A verdade é que todos sabiam que ele não passava de um arruaceiro preguiçoso e malcriado, que projectava a sua existência medíocre, à custa do copianço, da batota e da má influência que exercia sobre dois ou três microcéfalos que se obrigavam e abrigavam na sua envaidecida protecção.

Enquanto que o “Xico Esperto” era uma figura odiosa para a maioria da turma, causadora de repúdio ou de receio, ele próprio parecia viver bem com isso, porque o seu objectivo era passar de ano, não por mérito, mas pela batoteira imagem de liderança que passava junto dos professores á custa das “xico-espertices” que fazia junto dos colegas.

De há alguns anos para cá o Insigne Clube do Dragão, que tantas justas glórias recolheu nos tempos áureos de Américo de Sá, Pinto de Magalhães ou José Maria Pedroto, transformou-se no “Xico Esperto” oficial do futebol português.

Com a agravante de levar esta “xico-espertice” para esferas internacionais, assim permitindo na fácil confusão da “nuvem por Juno” que se degrade a imagem do futebol português e dos seus agentes.

Sou dos que pensam que o Benfica não teve esta época o merecimento necessário para ir à Liga dos Campeões e que prefiro, com total sinceridade, aquela mais nobre e distintiva posição de declínio de um benefício que não ganhei, nem mereci, no espaço adequado que é o terreno de jogo.

Mas isso não tira que eu não exija à Direcção do meu clube que defenda com intransigência o rigor e a verdade desportiva, lutando abnegadamente para que os “xicos-espertos” sejam definitivamente erradicados do futebol português, sem vergonha de os denunciar de voz alta e cara descoberta, ainda que correndo o risco de que lhes chamem queixinhas.

Quantas queixinhas não faço eu, ou o Miguel Sousa Tavares, contra a desfaçatez da ASAE, o cigarro hipócrita do Primeiro-Ministro, ou tantos outros destemperos à verdade e à justiça que infelizmente se passam no nosso Portugal?

O que Miguel ST se esqueceu foi que o “Xico-Esperto” nasceu primeiro que o Queixinhas.

Fez, á luz da única apreciação jurídica conhecida, batota comprovada e beneficiou de um regulamento iníquo para, em vez de baixar de divisão como devia, perder apenas 6 pontos que não lhe faziam falta nenhuma. Como bom “Xico-Esperto” resolveu estar quietinho, aceitar aquele inócuo correctivo que lhe mantinha a áurea e a garimpa. E até o declarou publicamente, que “nem precisava explicar – estava á vista de todos”, ele apesar de consumadamente corrupto continuava a ser o vencedor, único objectivo de qualquer “Xico-esperto”.

Não recorreu, portanto, aceitando como verdadeira a obscura e terrível acusação que sobre ele pendia. Assumindo-se definitivamente como o “Xico-Esperto” oficial do futebol português.

Miguel ST vem depois tentar salvar as más consequências (designadamente europeias) da “xico-espertice”, falando do princípio geral da não retroactividade da lei penal quando aqui estamos perante um disposição do direito desportivo que não está obviamente subsumida a esse princípio geral. Por irresistível “xico-espertice”, Sousa Tavares chama-lhe “direito punitivo”, para tentar abrigar neste mais abstracto conceito o direito penal e o desportivo. Também a mim me repugna a retroactividade da lei, mas a verdade é que esta pode ser accionada pelo Direito desportivo, como foi e seria se, entretanto, não tivessem ocorrido outras “xico-espertices”.

A principal, foi a intolerável pressão exercida sobre a Federação Portuguesa de Futebol, instituição que é dirigida por um Presidente que parece frouxo e vulnerável. Pressão cirurgicamente feita na entrevista á SIC, ao assessor jurídico João Leal e ao fax liso que enviou para a UEFA,  a pedido desta. João Leal que á imagem do seu Presidente não aguentou da tripa perante a habitual arruaça do “Xico-Esperto”, acabou por vestir a pele de outro personagem do nosso tempo de escola – o “geleia”. Aquele desgraçado que vivia aterrorizado à mão do Xico-Esperto e fazia tudo para não o contrariar ou atingir.

 João Leal e Gilberto Madail – os “geleias” oficiais do futebol português, fizeram o mesmo, lavaram as mãos num sintomático “não me comprometas” dizendo à UEFA que nada sabiam sobre trânsito em julgado nenhum, ou sequer sobre os factos que levaram à condenação do Futebol Clube do Porto.

E foi por isso, e só por isso, que a UEFA, mais preocupada em organizar sem sobressaltos a próxima “Champions” resolveu adiar aquilo que os primeiros responsáveis e interessados – os “Geleia” da Federação Portuguesa de Futebol, negavam conhecer e insistiam, também, em adiar.

Por isso se o Miguel Sousa Tavares confessa que o FCP deveria ter recorrido, aceitando que juridicamente com essa omissão suscitou o trânsito em julgado da decisão do Conselho de Disciplina da Liga então, sem “xico-espertices”, tem é que reconhecer que a UEFA decidiu mal, ou foi mal influenciada na decisão de não aceitar como provado o referido transito em julgado. Única razão pela qual não condenou, ainda o FC Porto.

Mas, agora para todos os “Xico-Espertos”, atenção: ninguém ilibou o F.C. Porto, nem ele próprio, como me parece que se acabará por provar.

 Por isso, “no mais tarde ou mais cedo”, em que qualquer “Xico Esperto” é julgado e punido, aguardarei tranquilamente por um desfecho justo e verdadeiro, continuando a exigir á Direcção do Benfica que, para além de ganhar campeonatos (que é a sua tarefa primeira), tenha a coragem de denunciar sempre os “Xicos-Espertos” desta vida.

Porque, para mim, quem denuncia “Xicos-Espertos”não é queixinhas é Valente!

 

António de Souza-Cardoso

 

 

 

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