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Novo Benfica

Novo Benfica

15
Dez08

A união faz a força

Pedro Fonseca

Luís Filipe Vieira deu uma grande entrevista à Benfica TV. Repisando algumas das ideias e projectos que tem vindo a anunciar, o Presidente do Benfica evitou pronunciar-se sobre uma possível recandidatura.

 

A pouco menos de um ano das eleições no Benfica, é normal que se comece a questionar quem serão os candidatos. Mas também é importante que os benfiquistas percebam que os “timings” dos órgãos de comunicação social não são os “timings” de Luís Filipe Vieira nem do Benfica. A maior parte das vezes são até “timings” muito diferentes e opostos.
Vieira faz bem em não ceder à pressão mediática. Não para alimentar qualquer tabu, mas porque, se calhar, há quem queira provocar manobras de diversão para desviar o Presidente do Benfica e os benfiquistas daquilo que é, para já, prioritário: consolidar a liderança, consolidar o projecto da Benfica TV, preparar o Benfica para os novos desafios, internos e externos.
Por outro lado, ninguém melhor do que Luís Filipe Vieira sabe qual é o momento ideal para se pronunciar sobre as próximas eleições. Dir-me-ão que nenhum benfiquista espera outra coisa que não seja a continuidade do actual líder. É bom, porém, que se saiba que se hoje é apetecível ser líder do Benfica isso deve-se ao trabalho hérculeo de recuperação financeira e da imagem do clube, e essa recuperação deve-se em grande parte a Luís Filipe Vieira.
Com o que foi conseguido e alcançado nestes últimos anos, é normal pensar-se que Luís Filipe Vieira tem uma passadeira vermelha estendida até ao cadeirão da Luz. Contudo, o sentido de responsabilidade do Presidente do Benfica não se distrai com as coisas fáceis e adquiridas.
Arrumada a casa ao nível do Departamento de Futebol profissional, com Rui Costa ao leme, Vieira tem sobre os ombros responsabilidades imensas. Não se trata agora de levantar do chão um clube depauperado, arrasado, descredibilizado por gestões danosas e irresponsáveis; trata-se de projectar o Benfica do futuro, alicerçado em projectos de vanguarda, primeiro entre os maiores clubes do Mundo.
A Benfica TV, que dá os primeiros passos, o projecto da Fundação Benfica, em prol dos mais carenciados, o Museu do Benfica, depositário de uma história gloriosa, as novas correlações de forças no âmbito das transmissões e direitos televisivos, obriga o Presidente do Benfica a um novo e redobrado esforço, dedicação e empenho.
Estes desafios não podem, por isso, ser abraçados por um homem só. Os benfiquistas têm de estar unidos e decididos a apoiar estes projectos e esta estratégia. Só com a nossa união, só com todos a remar para o mesmo lado, é que esta tarefa gigantesca será coroada de êxito.
Vieira sabe que pode contar com os benfiquistas, como contou no passado. Mas este apoio tem de ser dado com provas concretas, com acções determinadas e claras. Querem prova mais concreta e objectiva de que o Benfica está no bom caminho? Pois aqui vai: “No desempenho dos presidentes dos “grandes” no último mês, todos receberam apreciações positivas, mas a novidade é dada pelo facto de, a nível absoluto, Pinto da Costa ficar abaixo do seu homólogo do Benfica, Luís Filipe Vieira. É a primeira vez que tal sucede na vigência do Termómetro (sondagem mensal publicada no jornal “O Jogo”, na passada sexta-feira,  sobre o desempenho dos presidentes dos 3 “grandes”)”.
Este dado é tanto ou mais significativo quando se sabe que foi no último mês que o Benfica sofreu uma das suas maiores goleadas na Europa (5-0 frente ao Olympiacos, na Grécia, para a Taça UEFA), deitando quase por terra um dos principais objectivos da temporada.
A extraordinária receptividade dos benfiquistas a Luís Filipe Vieira resulta da conjugação de vários factores: 1 – O reconhecimento pela recuperação da credibilidade do clube; 2 – O reconhecimento pelo trabalho de equilibro económico-financeiro; 3 – O reconhecimento pelo trabalho de modernização das infra-estruturas desportivas; 4 – O reconhecimento pelo trabalho de recuperação do ecletismo do Benfica; 5 – O reconhecimento pela disponibilidade e energia demonstradas no reforço da militância e na expansão do benfiquismo, assim como na criação de novos projectos e lançamento de novos desafios: a Benfica TV e a Fundação Benfica, entre outros.
Os tempos difíceis que atravessamos obrigam-nos a uma responsabilidade acrescida. O Benfica é grande e importante demais para voltar a  cair em situações de aventureirismo, como as de um passado mais ou menos recente. O futuro obriga todos os benfiquistas a darem as mãos em prol de um projecto de Campeões.
 Ps1O meu texto anterior, intitulado “Mais que um clube” deu azo a alguns comentários a que pretendo responder. Uns “historiadores” chamavam a atenção para o facto da escravatura nos EUA ter sido erradicada muito antes dos anos 60. Se isso é verdade, de direito, não o é, de facto. Basta ler o que se passava em estados como o Alabama ou o Texas. Mas o que não foi erradicado foi a “escravatura moral”, que teve como ícone, Rosa Parks.
Ps2 - Nesse texto, referi alguns dos grandes jogadores que vestiram a camisola do Barcelona. Por lapso, referi Puskas, um grande jogador, sim, mas do Real Madrid. No texto, fazia a comparação entre o Barça e o Real, e isso levou ao lapso, pelo que onde se leu Puskas devia ler-se, Kocsis.
06
Dez08

Mais que um clube

Pedro Fonseca

Do Barcelona, dizem os catalães, que é “més que un club” – mais que um clube. Bandeira de uma região, a Catalunha, o Barcelona sempre foi uma espécie de braço armado da luta política contra o centralismo de Madrid. Orgulho dos catalães, em oposição ao arqui-rival e inimigo Real Madrid. Um mundo de cultura, de vivências sociais e políticas, separam estes dois emblemas.

 

É certo que o Barça apenas tem 19 títulos de campeão, contra os 31 do Real Madrid, e que só em 1992 conseguiu ser pela primeira vez campeão europeu, depois de ter tido nas suas fileiras jogadores como Puskas, Czibor, Cruyff, Maradona, Lineker, Romário, Krankl. Mas para os catalães é “més que un club”.
Circula uma tese que defende que o Benfica, não fossem os títulos de campeão europeu, em 61 e 62, não fosse Eusébio, não fossem os 31 campeonatos, as taças de Portugal, as inúmeras vitórias europeias, era como o … Leixões.
Sem o menor desrespeito pelo Leixões, antes pelo contrário, clube de grandes tradições , ouso discordar desta tese. E digo ouso porque de uma ousadia se trata, reconheço. Defender que o Benfica não é um clube de futebol, “core business”, como agora se diz, da sua actividade e principal razão da sua existência, é uma grande ousadia. Loucura? Talvez.
Vou tentar explicar porque defendo que o Benfica é “més que un club”. Não são as razões políticas, como as que servem de argamassa emocional no Barcelona, ou religiosas como no Celtic ou Rangers, que o explicam, mas o facto de como nenhum outro clube em Portugal, nem no Mundo, ter sabido ao mesmo tempo conciliar uma ideia do “ser português” com uma vocação universalista.
O Benfica foi, é e será sempre essa síntese, essa ponte, essa expressão identitária. Português, como nenhum outro, porque assumiu desde sempre a sua condição de “clube do povo”, antes, muito antes, das vitórias europeias e de Eusébio, porque não nasceu em berço de ouro, porque foi raio de luz, foi generoso, foi democrático, foi vermelho, foi simples, num Portugal que era sombra, era orgulhosamente só, era ditadura, era negro, era falso. Nunca se deixou “amarrar” nem submeter a nenhum poder, fosse ele político, social ou económico.
Um dia chamaram a esse ideal “mística”, uma palavra sem tradução, como saudade. Cosme Damião, fundador do clube, foi seu atleta, jogador, treinador. Sempre recusou ser presidente ou ter qualquer cargo directivo. A sua filosofia de vida, a sua generosidade, o seu humanismo, a sua alma, formatou o Benfica. É isto a Mística.
José Maria Nicolau, os mais novos não devem sequer saber quem foi, mas o Benfica, de sempre, está inteiro neste nome com três palavras, como Eusébio da Silva Ferreira ou Joaquim Ferreira Bogalho, ou Guilherme Espírito Santo.
Nicolau foi um dos maiores ciclistas portugueses e o maior do seu tempo, na década de 30. Ganhou duas Voltas a Portugal, em 31 e 34, mas pouca gente o sabe e nem sequer é por isso que é um nome imortal para os benfiquistas.
Passa despercebido a muitos, mas o Benfica tem no seu emblema uma roda de uma bicicleta, o primeiro “desporto do povo”. Em cima da bicicleta Nicolau levou a camisola vermelha do Benfica a um país inteiro que o idolatrava nas margens das estradas poeirentas, velhas, esburacadas.
Não foram as vitórias que o colocaram no coração do povo, foi a coragem, a determinação, a generosidade, a alma. A mística. Uma forma muito própria de ser português, mais português com a camisola do Benfica vestida.
Anos mais tarde, na década de 40, Joaquim Ferreira Bogalho, o primeiro “presidente do Estádio”, resolveu aplicar uma pena severa a um jogador. Esse episódio fez história e ainda hoje é recordado.
Félix era considerado o melhor defesa-central da Europa e, para muitos, o melhor defesa-central de sempre do Benfica. Depois de uma derrota em Setúbal, chegou aos ouvidos de Joaquim Ferreira Bogalho que Félix, irritado, tinha pisado a camisola do Benfica após a ter atirado para o chão no balneário. Bogalho expulsou Félix do Benfica. Quantas vitórias, quantos campeonatos não ficaram por ganhar em virtude desta decisão? Mas quem a ousa contestar?
Principal impulsionador da construção do Estádio da Luz, na década de 50, Joaquim Ferreira Bogalho foi o líder de uma gesta histórica. Sem dinheiro, sem infraestruturas, o Benfica apelou à generosidade dos seus milhares de sócios e adeptos para construir o Estádio da Luz. A “campanha do cimento” ficou histórica e uma das marcas de água do “ser benfiquista”. Foi com o suor, o sangue e as lágrimas dos benfiquistas que se construiu o Estádio da Luz. É isto a mística. “E pluribus unum” – Todos por Um.
E claro, houve Eusébio. Mas, note-se, muito antes já havia Benfica, muito depois continuou a haver Benfica. Não é tanto pelas vitórias que o menino negro, pobre, simples e tímido, de Mafalala, que um dia chegou a Lisboa para representar o Benfica, se tornou um símbolo, um ícone, uma estátua.
Foi porque Eusébio, como Coluna, empunhou o testemunho transmitido por Guilherme Espírito Santo, super-atleta da década de 30: a multiculturalidade, a multietnicidade, a união entre povos e raças. O Benfica era isso, é isso, será sempre isso.
Quando a escravatura ainda era uma forte realidade no maior país do Mundo, os Estados Unidos da América, o Benfica tinha como seus porta-estandartes 3 negros: Guilherme Espírito Santo, Eusébio da Silva Ferreira, Mário Coluna.
Quando o Estado Novo reagia em força às alterações à ordem estabelecida nas antigas colónias, o Benfica e os benfiquistas reviam-se na classe, no humanismo, na simpatia, de um angolano, Guilherme Espírito Santo, e de um moçambicano, Eusébio da Silva Ferreira, e colocava a braçadeira de capitão e a autoridade de líder no braço e na personalidade de um outro moçambicano, Mário Coluna – e foram eles que levaram o nome do Benfica por esse Mundo fora.
Em quase 105 anos de existência, há altos e baixos, há sombras e luzes, há festa e melancolia. A quem gosta de aferir instituições pelo currículo das vitórias, não basta responder  que o Manchester United esteve 25 anos sem ser campeão, o Real Madrid 17 e o AC Milan 18, porque nenhum destes clubes pode almejar ser o Benfica e tudo o que o Benfica representa.
Nem o Santos de Pélé, nem o Vasco da Gama, dos portugueses do Rio, podem algum dia almejar atingir essa dimensão. Porque a todos faltou um desígnio imaterial no dia da fundação. Porque todos são meros “clubes de futebol”. E os que dizem que não são só isso, como o Barcelona, têm uma agenda política muito própria e muito sua.
O Benfica está muito acima. O Benfica não é um clube de futebol porque é a emanação real e transcendental de uma ideia, de um sentimento, de uma alma: português na origem, universalista nos princípios, humanista na ética.
Quando uma criança de rua passeia descalça na Costa do Sol, em Maputo, só com a camisola do Benfica vestida; quando um restaurante na Cidade da Praia, em Cabo Verde, emoldura as suas paredes com fotos das equipas do Benfica; quando um moleque do Rio se lembra do histórico Santos-Benfica (5-3), em Paris, porque o pai lhe falou de um negrinho com 19 anos chamado Eusébio, igual a Pélé e Didi; quando em Luanda ou no Huambo se paravam os tiros para ouvir os relatos do Benfica; quando, às terças, uma fila imensa de gente espera a sua vez à porta da biblioteca municipal de Maputo para ler “A Bola” e a crónica do jogo do Benfica; quando em Newark o Dia de Portugal é festejado com bandeiras do Benfica e de Portugal; quando mais de 40 mil portugueses enchem o Stade de France, em Paris, para apoiarem o Benfica, naquela que foi a maior presença de sempre de adeptos de uma equipa visitante num jogo das competições europeias; quando, em Genebra, um emigrante português celebra a vitória da selecção circulando pelas artérias da cidade com bandeiras do Benfica a esvoaçar nas janelas  – de que é que estamos a falar?
De algo, porventura, sei lá, tão ou mais forte que a bandeira e o hino. Algo que não acabou, nem morreu, nem foi esquecido, com a descolonização e a independência das ex-colónias. Algo que os emigrantes levam consigo para o Brasil, para França, para a Suiça, para os Estados Unidos. Esse nome, Benfica.
ps1Por razões pessoais, este texto é publicado hoje e não na segunda-feira, o meu dia normal de postagem, tendo trocado com o António Souza-Cardozo, em cujas mãos ficará melhor a análise da vitória do Benfica no Funchal, domingo à noite, e consequente ascensão ao 1º lugar. Acredito na vitória, acredito no 1º lugar, acredito que vamos ser campeões. Porque o Benfica vive das vitórias e para as vitórias. Campeão, sempre campeão.
01
Dez08

Somos o 1º

Pedro Fonseca

Tinha previsto escrever um texto sobre a minha “ideia” de Benfica. O tema obrigava a algum tempo de reflexão, a que não me submeti, e a alguma investigação, que por falta de tempo negligenciei. Esta temática fica, assim, para posterior momento.

 

A semana, aliás, foi marcada pelo desastre de Atenas. O que, curiosamente, me fez recuar até à minha infância, ao momento onde, pela primeira vez, senti fervilhar dentro de mim a chama imensa e percebi com absoluta nitidez que só podia ser benfiquista. Foi em 1971, tinha 8 anos, e o Benfica tinha acabado de perder por 4 – 1, em Munique, contra o Bayern.
As derrotas, mesmo as mais pesadas, são muitas vezes, detonadoras de catarses necessárias. Porque será que as guardamos mais tempo no nosso subconsciente? Serão elas a verdadeira prova da nossa fé inquebrantável? Será que o orgulho ferido nos faz mais fortes, mais determinados? Será que da humilhação nasce a revolta?
Será, com certeza, tudo isto. Mas, o certo é que não sou nem mais nem menos benfiquista depois de Atenas, nem isso ocorreu depois de Vigo. As derrotas, mesmo as mais pesadas, são meros episódios de uma história gloriosa, de feitos e conquistas. Sem elas, não havia nenhum apelo: “levanta-te e caminha”. Não havia o gesto de sacudir o pó da camisola, levantar a cabeça, encher o peito de ar e lançar, de novo, o ataque.
Hoje à noite, na Luz, vamos receber os nossos heróis, de Atenas e de Nápoles, e mostrar-lhes que é nas derrotas que se veêm os campeões. Hoje à noite, na Luz, contra o Vitória de Setúbal, vamos regressar ao nosso lugar, ao primeiro lugar, certos de que é nas derrotas, mesmo as mais pesadas, que arranjamos, de novo, forças para retomar o trilho que fez a nossa história: o caminho da vitória. Somos o Primeiro.
24
Nov08

Deixem jogar o Reyes

Pedro Fonseca

Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete. Chegado aqui parei de contar. Não porque os meus conhecimentos de Matemática não dão para mais, mas porque mais uma ou menos uma falta era já quantitativamente irrelevante.

 

Domingos Paciência tem um problema com o Benfica. Sejamos mais rigorosos: Domingos Paciência tem um problema com o FC Porto. Estes dois factos não são contraditórios. Criado no seio de uma cultura “desportiva” que elegeu o Benfica como “inimigo”, o actual treinador da Académica leva a coisa a peito.
O que não deixa de ser tragicamente irónico num homem que tinha tudo para ser um bom treinador e um agente civilizado do futebol português, que deles está bem carenciado. Mas Domingos sente que tem de ir para o banco sempre com a camisola do FC Porto vestida, esteja em Leiria ou em Coimbra.
Há uns anos atrás, ficou célebre a imagem do então treinador da União de Leiria, durante um jogo com o FC Porto, com os olhos no chão, evitando ver a realidade – a “sua” equipa derrotava o “seu” FC Porto. E isso era mais do que Domingos podia suportar.
Ontem, em Coimbra, não houve olhos no chão. Mas houve uma perseguição impiedosa e miserável dos jogadores da Académica a esse fora-de-série chamado José António Reyes. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis faltas. Uff…
O extremo espanhol deve ter sentido bem na pele que nos relvados portugueses a genialidade é atributo mal visto e a cortar pela raiz. Pelo que se exige aos árbitros portugueses que defendam a genialidade, a qualidade, o talento. É para ver jogadores como Reyes que os adeptos de todos os clubes pagam bilhete para ir ao estádio.
Apetece dizer: “Deixem jogar Reyes”. O que fez Domingos, ele que foi um bom jogador de futebol e devia ter tido uma acção pedagógica junto dos seus jogadores? Mal viu Bynia entrar mais acutilantemente sobre um jogador da Académica, sem nele tocar sequer, Domingos saltou como uma mola do banco para barafustar.
É certo que Bynia tem sido perseguido injustamente pelos árbitros, ele que é um jogador viril mas leal, e o Benfica tem de o defender publicamente. Mas o camaronês não é homem de olhar para o chão, em situações mais embaraçosas, pelo contrário, é homem de olhos nos olhos, e de carácter.
Depois dos olhos no chão de há anos atrás, Domingos brindou-nos ontem com mais uma imagem para a posteridade. Com a boca cheia de ar e o olhar incrédulo, o treinador da Académica revelava o que lhe ia na alma: “Bolas, mais uma vez estes tipos a fazerem-me a vida negra”. É que a última derrota da Académica foi há cerca de um ano, contra o Benfica, em Coimbra.
E pronto. Podia ter falado da lição táctica que Quique deu a Domingos. Podia ter escrito sobre a quarta vitória consecutiva. Podia ter feito a antevisão do jogo, quinta-feira, contra o Olimpiacos, na Grécia. Podia ter sublinhado um facto, um pormenor, mas tão, tão, tão importante: Reyes com a bola dominada junto da área da Académica não prossegue um lance de grande perigo para que seja assistido um jogador da Briosa.
Pois é, são estes pequenos pormenores que revelam o carácter das pessoas, não são Domingos?
17
Nov08

O Presidente do Povo

Pedro Fonseca

Cada clube tem a sua matriz genética, cada presidente o seu estilo. O ideal será uma comunhão entre as características mais marcantes da massa associativa e o perfil pessoal do líder.

O Benfica atingiu esse ponto de convergência entre aquilo que é a essência do clube e a forma de estar, a filosofia de vida, do actual Presidente do Glorioso. Passemos a explicar.
Clube do povo, o Benfica não nasceu em berço de ouro, como os seus dois mais directos rivais. Escolheu a cor vermelha, como forma de melhor expressar essa ligação indelével às camadas mais pobres e de estratos sociais mais baixos.
O contraponto com o Sporting, clube da aristocracia e do regime, e com o FC Porto, da alta burguesia portuense, foi evidente e notório. As vitórias no campeonato, a conquista da Taça Latina, em 1950, e, principalmente, a epopeia dos anos 60, com as duas vitórias na Taça dos Campeões Europeus, fizeram do Benfica um fenómeno de aceitação em Portugal e nas antigas colónias.
Se a base, onde estava a esmagadora maioria dos adeptos, sócios e simpatizantes, era preenchida com a gente pobre e assalariada, os golos de Julinho e de Eusébio, mas também as vitórias de José Maria Nicolau, na Volta a Portugal em bicicleta, garantiram um apoio transversal em todas as camadas da população.
Mas o Benfica nasceu povo, é povo e será sempre povo. Nem sempre os líderes do clube souberam perceber esse toque divino à nascença. Uns por distinção social, outros por estilo.
Não é o caso de Luís Filipe Vieira. O actual presidente do Benfica pode vir, no futuro, a ser identificado como o “Presidente do Estádio”, ou o “Presidente da Credibilidade”, ou, ainda, o “Presidente da Recuperação Económico-Financeira”, ou, mais ainda, o “Presidente do Regresso aos Títulos”.
Mas, verdadeiramente, o que lhe vai garantir um lugar ao lado de Joaquim Ferreira Bogalho, Maurício Vieira de Brito e de Duarte Borges Coutinho, é o facto de ser (ter sido) o “Presidente do Povo”.
Por debaixo da capa de negociador implacável, de empresário de mérito e de gestor de sucesso, está a alma de um adepto comum, igual à de milhões e milhões de adeptos do Benfica espalhados pelo Mundo.
O homem que não troca o bom nome e a credibilidade do Benfica pelas vitórias (mesmo que isso não seja totalmente entendido); o homem que prefere manter os pés na terra, cumprindo os contratos que celebra (mesmo que isso lhe acarrete algumas incompreensões); o homem que não hipoteca o futuro do Benfica mesmo que lhe agitem ilusórias e efémeras vitórias – esse homem é o mesmo que vibra com os êxitos e com os títulos, sejam os do futsal ou os do futebol; é o mesmo que desde que há cinco anos assumiu a liderança do Benfica, não se cansa de percorrer as Casas do Benfica, de Norte a Sul, para estar junto do “povo benfiquista”.
Em 2004/2005, no Bessa, na última jornada do campeonato, com o Benfica a conquistar o título depois de 11 anos de jejum, Vieira foi o adepto comum, que entrou no relvado para abraçar um a um todos os jogadores que tinham acabado de cumprir um sonho.
Aliás, escrevo-o com conhecimento de causa, às vezes essa paixão irracional de adepto transfere para segundo plano o rigor do gestor de créditos firmados. Por um momento, Luís Filipe Vieira também deixou que o seu “coração vermelho” se aventurasse e fugisse para fora do controlo do frio e imprescutável guardião do rigor e do equilíbrio das contas do maior clube do Mundo.
No ano do título (2004/2005), após a inesperada e quase catastrófica derrota em Penafiel, o Benfica precisava de vencer o Sporting (fulgurante com Peseiro) na Luz para unicamente depender de si para chegar ao título.
Logo nessa fatídica noite, Vieira fez saber junto da Direcção do Boavista que estava na disposição de comprar toda a bilheteira do estádio do Bessa, onde o Benfica disputava o último jogo do campeonato.
O arrojo e a coragem teve um preço. Alto. Quase um milhão de euros. Em Óbidos, no primeiro dia de estágio com vista ao jogo com o Sporting, o Presidente do Benfica reuniu todo o plantel e colocou em cima da mesa os caixotes com os bilhetes adquiridos. Disse apenas que o que estava ali dentro era o sonho de milhões de benfiquistas e que esse sonho não podia ser desfeito.
Luisão avançou e batendo com a mão no peito garantiu: “Presidente, vamos ganhar e vamos ser campeões”. Na Luz e no Bessa, a história é conhecida. Onze anos depois, o Benfica era, de novo, Campeão. E Luís Filipe Vieira, o “Presidente do Povo”.

 

Post-Scriptum: O "post" do António Souza-Cardozo sobre o Bruno Carvalho tem toda a minha solidariedade e o meu apoio. Sem me querer alongar, apenas digo isto: o Bruno é um verdadeiro benfiquista, de corpo e alma - com a coragem que eu gostaria de ter e com um coração do tamanho do Mundo. Voltarei a este assunto no "O INFERNO DA LUZ".

10
Nov08

Noite de estrelas na Luz

Pedro Fonseca

Foto Jantar

O António Souza-Cardozo escreveu um texto admirável sobre o memorável jantar de sexta-feira à noite, no Estádio da Luz, organizado por este blogue. Sem Benfica no fim-de-semana, vejo-me compelido a abordar, de novo, esta iniciativa, que contou com a presença do Presidente, Luís Filipe Vieira, e do Director Desportivo, Rui Costa.

Receio, porém, não estar suficientemente à altura de tal tarefa, depois do que escreveu o Souza-Cardoso. Assumo, no entanto, o desafio.
Antes de mais, uma palavra de agradecimento para os benfiquistas que marcaram presença no encontro. Depois, o agradecimento que se exige ao Presidente Luís Filipe Vieira e ao Director Desportivo, Rui Costa. Não só pela participação mas pelas intervenções realizadas.
Luís Filipe Vieira falou da obra erguida em 5 anos, a sua “menina dos olhos”, da recuperação financeira, da devolução da credibilidade ao clube, da revolução encetada ao nível administrativo, com a modernização interna do clube – cuja “cereja em cima do bolo” é a ligação “online” a todas as Casas do Benfica -, o novo estádio e centro de estágio, a recuperação das modalidades, hoje com performances ganhadoras, do reforço da equipa de futebol, etc.
José Nuno Martins, director do Jornal do Benfica, escreveu em recente editorial que a obra de Vieira é fruto de uma extraordinária perspectiva “visionária” do que deve ser o Benfica do futuro.
O Presidente do Benfica realçou, ainda, os novos projectos que o animam para o futuro: o Museu, a Fundação, e, principalmente, a revolução que pretende fazer ao nível audiovisual, através da Benfica TV, sabendo que o Benfica é o líder em termos de audiências televisivas. A recente polémica com a ZON TV Cabo é a prova de que Vieira não recua, nem verga, na defesa dos interesses do Benfica.
“Se tenho alguma responsabilidade neste processo de recuperação e regeneração do Benfica é ter tido sempre a preocupação de não olhar para a árvore, mas sim para a floresta”, disse, durante uma intervenção clarividente e esclarecedora.
O Benfica do futuro exige que não se abalem os alicerces construídos nestes últimos anos. E, por isso, é imperioso que se recusem quaisquer aventureirismos, que levariam o Benfica, outra vez, até perto do abismo.
Rui Costa é o garante que aos 3 títulos conquistados nos últimos anos (Campeonato, Taça e Supertaça), muitos mais se vão somar. De uma forma consistente e permanente. Ao comando do futebol, Rui Costa sabe como ninguém do seu ofício. Respira futebol e benfiquismo por todos os poros e sente-se como peixe na água a falar do jogo que o elegeu como um dos seus maiores intérpretes de sempre.
Guardo ainda na memória uma frase do Rui, que me há-de acompanhar até Maio/Junho, quando o campeonato estiver no fim. “Vamos ser campeões”, disse o Maestro. Foram como acordes de música celestial estas palavras. Despedimo-nos com a “chama imensa” bem acesa dentro da nossa alma. O Benfica do futuro está lançado a grande velocidade.
 
Post-Scriptum 1: Uma das maiores conquistas de Luís Filipe Vieira foi a mobilização dos benfiquistas em torno do clube. Agora que tanto se fala em “militância” clubística, Vieira bem pode dizer: “uns têm-na, outros não”. E para provar esta realidade, basta ver que o Sporting, em dois jogos importantíssimos (Shaktar e FC Porto) não reuniu mais de 45 mil pessoas em Alvalade. O Benfica, na Luz, num só jogo (Galatasaray), ultrapassou essa fasquia;
 
Post-Scriptum 2: Perdoem-me esta “boleia”, mas, sobre o jantar de sexat-feira, podem ainda consultar o que escrevi n´”O Inferno da Luz”.
03
Nov08

Ninguém pára o Benfica

Pedro Fonseca

Perto daquela jogada fabulosa, perto daquele golo fabuloso, tudo fica insignificante, tudo não passa de um pormenor de somenos, rídiculo e desprezível. Sorte de Xistra, sorte de tantos xistras que teimam em tentar “assassinar” o futebol.

O que nos vale é que há Aimar e há Suazo. E há, ainda, lances porque vale bem a pena ir ao futebol, mesmo que tenhamos de aguentar ver 3 senhores, denonimados “equipa de arbitragem” passear a sua incompetência nos relvados.
O golo 5000 do Benfica tem a marca do Rei. Sim, o golo 5000 do Benfica tem a marca da Pantera Negra. É verdade, o golo 5000 do Benfica fez o tempo recuar 30 anos. Certo que Coluna evitaria fazer aquele “passe de letra”. O pragmatismo e o rigor do africano não casava com a fantasia do mago das pampas. Mas, a cavalgada de Suazo, meu Deus!, pareceu tirada a papel químico das cavalgadas míticas do senhor Eusébio da Silva Ferreira.
Na noite fria por fora, quente por dentro, de Guimarães, a simbologia não ficou por aqui. O momento solene da deposição da coroa de flores no local onde caiu Miki Féher, estremece o mais emperdenido. E se os vimaranenses sentem como poucos o seu clube, também souberam comungar connosco a dor e a saudade do 29.
Solidariedade. Talvez seja esta a palavra do momento na Luz. Uma palavra que une Direcção, Jogadores e Equipa Técnica, formando uma autêntica parede de betão, imune a qualquer “atentado”. Intransponível.
A serenidade de Quique, entremeada com picos de energéticos e vibrantes momentos – de revolta ou de euforia -, é também um momento de grande simbolismo. Este “frio e quente” do treinador espanhol, qual interruptor eléctrico, dá a voltagem adequada à equipa, comandando-a de fora para dentro.
E depois há Rui Costa. O director desportivo, agora administrador, está em todas. Incansável. Foi entusiasmante vê-lo viver e sofrer na bancada do D. Afonso Henriques, como cada um de nós. Mas, principalmente, foi significativo vê-lo descer da bancada para, no fim do jogo, dizer a Xistra aquilo que todos nós, benfiquistas, gostávamos de lhe dizer. Cara a cara, olhos nos olhos. Sendo que Xistra apenas pode baixar os olhos de vergonha.
Por último, Luís Filipe Vieira (embora os últimos são os primeiros). O Presidente do Benfica recebeu mais um banho de multidão em Cerveira, no “coração” do Alto Minho, onde moram milhares de benfiquistas, num autêntico “never ending tour” (um roteiro sem fim), que o tem levado a dezenas de Casas do Benfica. Sempre próximo do adepto comum.
Neste périplo, Vieira lançou mais projectos: a Fundação Benfica, o Museu, a nova sede. Relevo, no entanto, duas coisas: o desejo de voltar a ver o Benfica a jogar à tarde na Luz, e a certeza de que este ano, “ninguém vai parar o Benfica”. Palavra de Presidente!

 

 

Post-Scriptum: Faltam apenas 5 dias para o jantar/convívio do "Novo Benfica". Sexta-feira, 7 de Novembro, no Estádio da Luz, pelas 20.30 horas, a "malta" deste blogue, uma referência na blogosfera, com mais de 1.200 acessos diários, vai reunir-se para fazer um balanço desta iniciativa que visa debater o Sport Lisboa e Benfica. Para aguçar o apetite para um repasto que tem inscrições limitadas a 30 pessoas, podemos revelar que este evento terá a presença do Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Luís Filipe Vieira. Pode inscrever-se através do email novobenficajantar@gmail.com

27
Out08

Contra o "sistema" ganhar, ganhar...

Pedro Fonseca

Este fim-de-semana, o futebol português fez um regresso ao passado. Um regresso aos velhos tempos do Apito Dourado, do Apito Final, e afins. Se são para ficar ou não, os próximos tempos vão-nos dar a resposta.

Pensavam que o “sistema” tinha acabado? Pensavam que os “rostos” desse mesmo “sistema” estavam moralmente mortos ou moribundos e sem qualquer capacidade de reacção? Pobres ingénuos.
Não é com palavras de circunstância ou com meros formalismos legais, que se desmonta uma complexa teia de interesses, cumplicidades e promiscuidades. O “sistema” estrebucha ainda, e de que maneira.
No sábado, no estádio do FC Porto, Paulo Batista,o árbitro de Portalegre, foi o porta-voz e o porta-estandarte desse poder ainda forte, vigoroso e estabelecido. Desde muito cedo disse ao que vinha. Duas entradas a “matar” de Rodriguez, logo no início do jogo, sobre um jogador do Leixões passaram impunes.
O que se seguiu dava para envergonhar muita gente, mas infelizmente é pouca a gente do futebol ainda com carácter para se envergonhar, a maioria já perdeu a vergonha toda.
O golo anulado ao Leixões é o exemplo acabado de que os vermes continuam a andar por aí, sentem-se e sabem-se impunes. E, aqui e agora, eu quero saudar as bravas gentes de Matosinhos e os generosos e corajosos adeptos do Leixões.
Gente do mar, gente de carácter e gente simples, que se sentiu roubada e vilipendiada. Mas nunca vergada. Eu quero, e comigo os milhões de benfiquistas, juntar a minha indignação à indignação de milhares de leixonenses.
Não fossem os jogadores do Leixões da mesma têmpera dos seus adeptos – bravos e corajosos – e mesmo contra todas as indignidades souberam ir buscar a vitória como quem vai buscar o alimento ao alto mar, e o futebol português teria assistido, sábado à noite, no estádio do FC Porto, a um dos maiores escândalos do nosso futebol.
Não contente com isto, o “sistema” voltou à carga, ontem na Luz. Rui Costa, o árbitro do Porto, fez tudo, mas tudo, para prejudicar o Benfica e, assim, atenuar um pouco o “desastre” de sábado.
O penálti que ninguém viu, marcado por Paulo Batista contra o Leixões, no estádio do FC Porto, e o penálti que toda a gente viu não marcado por Rui Costa no estádio da Luz, contra a Naval, são todo um compêndio de como o “sistema” funciona e actua.
E por isso, quero desde já lançar um aviso à navegação. Estão redondamente enganados os dirigentes do Benfica se pensam que é com palavras e discursos diplomáticos que se consegue acabar com este estado de coisas.
Os senhores do “sistema” têm de perceber que o Benfica não está distraído, que está atento e vigilante e, por isso, há que começar a utilizar a linguagem dura, a linguagem da verdade, a linguagem de quem não esmorecerá enquanto a credibilidade e a transparência não regressarem de vez ao futebol português. Porque quem não deve não teme.
 
Post-Scriptum 1Na verdade foi um fim-de-semana infausto para os arautos da desgraça e para os vermes do “sistema”. Dentro das quatro linhas, foi o que se viu. Fora das quatro linhas, o Benfica provou, mais uma vez, que está bem e recomenda-se: apresentou resultados líquidos positivos pelo segundo ano consecutivo e conseguiu, ainda, reduzir substancialmente o seu passivo. Com os principais clubes portugueses, como FC Porto e Sporting, a acumularem prejuízos astronómicos, cuja crise internacional mais irá agravar, o Benfica, clube e SAD, apresenta uma saúde financeira invejável, em mais um reflexo da correcta estratégia traçada pela gestão de Luís Filipe Vieira.
 
Post-Scriptum 2Aproxima-se cada vez mais o dia do grande jantar (7 de Novembro), do Novo Benfica. Todos os benfiquistas podem e devem inscrever-se através do email novobenficajantar@gmail.com. Ao longo dos próximos dias vamos revelando as muitas surpresas que estão a ser preparadas. Inscreva-se!
29
Set08

Os detalhes de Quique

Pedro Fonseca

Na euforia da vitória sobre o Sporting, no passado sábado, na Luz, alguns detalhes passaram para segundo plano. Depois das análises feitas, quero regressar a esses detalhes, porque, como gostam de dizer os “experts”, é nos detalhes que se ganham os jogos.

O primeiro detalhe que quero realçar tem a ver com a postura do senhor Enrique Sanchez Flores, mais conhecido por Quique Flores. Os analistas apontam a substituição de Ruben Amorim por Katsouranis como o “momento do jogo”, aquele que fez com o que o Benfica tomasse o controlo total da partida e ganhasse o dérbi.
Eu quero recuar um pouco no tempo e dizer que Quique Flores começou bem antes a ganhar o jogo. Foi quando, em resposta a uma pífia fanfarronice de Paulo Bento, afirmou que preferia ser humilde a andar de peito feito.
Nesta troca de palavras entre os dois treinadores, o espanhol goleou o português e o Benfica entrou, assim, em vantagem no dérbi. Não deixa, aliás, de ser caricato que seja Paulo Bento, um treinador aparentemente cordato, a tentar abrir uma “guerra” de palavras, num despropósito que costumava ser exclusivo de alguns dirigentes. Saiu-lhe o tiro pela culatra.
O segundo detalhe tem a ver com a coragem de Quique Flores. Indiferente ao facto de se tratar do clássico dos clássicos, onde uma derrota podia trazer consequências devastadoras para a estrutura anímica da equipa e para o seu futuro desportivo, o treinador espanhol não se refugiou atrás das soluções óbvias, que passariam pela colocação de Katsouranis a central, em vez de Miguel Vítor, e de Léo na esquerda, no lugar de Jorge Ribeiro. Ao apostar na mesma dupla de Paços de Ferreira, Sinei e Miguel Vítor, ambos com 19 anos, deu um importante e decisivo gesto de confiança para o resto da temporada.
O terceiro detalhe tem a ver com a atitude de Quique. O espanhol, ao contrário do habitual, passou todo o jogo de pé, junto à lateral, sem o espalhafato de Camacho, mas com indicações concretas e precisas aos jogadores.
Não esbracejou mas também não foi passivo, os seus gestos parecem “científicos”, sabe o que quer transmitir e foi nesta poupança gestual que (re)organizou a equipa no relvado. Importa reter este comportamento do espanhol. Ele dá à equipa uma segurança psicológica que não é despicienda. Os jogadores veêm ali um comandante que domina tudo o que se passa no relvado, numa pose científica mas não artificial, numa atitude contida mas não alheada.
O quarto detalhe também tem a ver com Quique. O treinador científico, às vezes frio e distante, à maneira de Mourinho, afinal também vibra, e como vibra!!!! A maneira efusiva e empolgante como festejou os golos do Benfica é algo que merece ser visto e revisto. Está ali um homem que ama o clube onde trabalha, que se envolve emocionalmente com o jogo e com o ambiente que o rodeia, que coloca de parte alguma altivez para descer até ao coração dos adeptos e viver com eles uma alegria imensa.
No coração de Quique vive uma “chama imensa”, na sua cabeça estão armazenados os conhecimentos técnicos e tácticos que vão colocar, de novo, o Benfica no topo do futebol português e europeu.
Quinto e último detalhe. Sempre Quique. A sua conferência de imprensa devia ser um exemplo para todos os treinadores portugueses. Não deixou por responder nenhuma pergunta e fê-lo com aquela abertura e elegância dos homens inteligentes e preparados para a sua função. Falou de futebol, das tácticas do jogo, dos jogadores. Outros, no seu lugar, já insultaram os jornalistas, já assumiram a postura do “quem sabe sou eu”, já se levantaram e abandonaram a sala de imprensa. Quique não.
Depois de Sven-Goran Eriksson e de José Mourinho, Enrique Sanchez Flores, Quique para os adeptos do futebol, pode ser o terceiro homem a revolucionar o futebol português e o futebol do Benfica.
15
Jul08

Resposta ao Bruno Carvalho

Miguel Álvares Ribeiro

 

Os comentários do Bruno Carvalho têm a capacidade de me incomodar, o que pode até ser proveitoso na medida em que me obrigam a questionar-me. O último post então, incomodou-me profundamente e a minha primeira reacção foi a de escrever um comentário imediatamente; dada a pouca disponibilidade de tempo nessa altura e a extensão que o comentário teria que ter decidi aproveitar a oportunidade para fazer este post.
 
Não duvido que parte substancial das principais linhas da sua argumentação sejam as que devem ser utilizadas pelos órgãos que definem a estratégia de actuação do Benfica, embora não possa aceitar a carga que lhes dá, que praticamente legitima e desculpa actos de corrupção e aliciamento.
 
Essa é mesmo a principal crítica que faço aos posts do Bruno. Se, como diz (e consigo todos os portistas) quem for melhor ganha, porquê punir a corrupção? No fundo, se não prejudica ninguém, este tipo de comportamento deveria talvez ser visto como um acto de generosidade, que apenas beneficia o estatuto económico (ou outro) de alguns agentes desportivos!
 
Para mim não há, como diz o Bruno, “qualidade de batota” e os batoteiros não têm lugar no Benfica. É uma questão de princípio, por isso para mim não pode haver zonas cinzentas.
 
Pelo contrário, no fcp PC é endeusado, mesmo pelos muitos adeptos que já reconhecem os seus esquemas corruptos.
 
Ninguém nega a qualidade das equipas do fcp nos últimos anos mas também penso ser incontroverso que a protecção às mesmas permite disfarçar os maus momentos e ganhar confiança, ao contrário do que acontece com o Benfica, onde as instabilidades são muito ampliadas por “mãos amigas” que ajudam a empurrar-nos para baixo nos momentos certos. A psicologia e motivação de grupos (aqui atrevo-me, mas deixo espaço para o Júlio me corrigir, porque disto sabe ele) vivem muito da capacidade de superar as dificuldades e da união que tais momentos proporcionam, amplificando as suas repercussões. Pelo contrário, o sentimento de impotência perante a injustiça conduz à desmotivação.
 
Ao contrário do que sustentam, nem sempre o melhor ganha, mesmo quando o jogo é limpo, muito menos quando não o é. Para recorrer a um exemplo próximo no tempo, não me custa nada reconhecer que provavelmente a equipa de hóquei em patins do fcp é melhor que a nossa, mas o que é um facto é que se não fosse a colaboração da equipa de arbitragem no jogo disputado em Fânzeres, que inventou tantos penalties quantos os necessários para que o fcp empatasse e ganhasse a confiança necessária para retomar o controlo do jogo, certamente sairíamos de lá com uma vitória.
 
Concedo que temos cometido muitos erros e que seja importante reconhecê-lo e rectificar procedimentos. Também acho importante sermos suficientemente pragmáticos para reconhecer que eles têm os árbitros, parte importante da imprensa e as estruturas dirigentes por conta, e que isso não vai ser fácil de mudar no curto prazo; e que se parta daí para a pergunta: como é que vamos ser capazes de os vencer? Mas isto sem conceder que não queremos competir no campo da batota.
 
Infelizmente, apesar da confiança e esperança que deposito em Rui Costa, continuam a acumular-se erros do passado. A novela à volta contratação de Aimar continua a alimentar as manchetes noticiosas sem que haja uma decisão final. O Benfica assumiu o interesse no jogador e depois deixa as coisas arrastar-se com a inevitável acumulação de interferências.
 
Apesar de tudo, tenho esperança nesta época. Em primeiro lugar, como disse aqui há uma semana, a aposta no treinador e em jogadores jovens parece-me acertada, embora encerre alguns perigos se não for dado tempo para que haja estabilização do projecto. Além disso tenho esperança que todos estes desenvolvimentos em torno dos processos de corrupção no futebol português dificultem a sua acção nos tempos mais próximos e permitam uma competição sã.
 
Saudações Benfiquistas
 
p.s. 1 – O TAS confirmou a presença do fcp na Champions League. Mais uma decisão a comprovar que, desde que se seja organizado e competente, ser batoteiro compensa!
 
p.s. 2 – O que leva um juiz-conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo a integrar a comitiva do fcp à UEFA?

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