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Jul09
A ENTREVISTA
Pedro Fonseca
Luís Filipe Vieira deu uma entrevista, ontem, a dois órgãos de comunicação social de referência: a TSF e o Diário de Notícias. O Presidente do Benfica, reeleito com uma maioria esmagadora de quase 92%, “enfrentou”, durante 60 minutos, a argúcia jornalística, a competência e a matreirice de dois dos mais experimentados jornalistas portugueses: João Marcelino, director do DN, e Paulo Baldaia, director da TSF. Com a curiosidade de o primeiro ser sportinguista e de o segundo ser portista.
Numa época em que dirigentes políticos e desportivos gostam de pisar terrenos seguros, previsíveis e confortáveis – alguns até conseguem a colaboração dos “media” para escolher o “timing” que melhor lhes convém - a aceitação do convite para a entrevista deve ser vista como um acto de coragem de Luís Filipe Vieira.
O Presidente do Benfica, como disse, tinha acabado de ver sufragado o seu projecto por larga maioria junto do povo benfiquista. Porquê expor-se, agora, a uma entrevista que teria, certamente, perguntas mais ou menos incómodas?
Só tenho uma resposta para explicar esta disponibilidade de Luís Filipe Vieira: transparência. Vieira nada tem a esconder aos benfiquistas. Pelo contrário, sente sempre a necessidade de os manter a par da realidade do clube.
Quando se inicia uma nova época, cheia de novas motivações, o Presidente do Benfica deu mais uma vez a cara para esclarecer os sócios, adeptos e simpatizantes. Falou do futebol de uma maneira dessasombrada. E disse alto e bom som que “a marca Benfica é a mais valiosa de Portugal”.
Foi uma entrevista de Estado. Evitou, como devia, qualquer polémica. Mesmo quando o tentaram arrastar para zonas mais beligerantes, disse que só lhe interessava falar do Benfica. Não escondeu que era amigo de Joaquim Oliveira, mas advertiu que isso não o impede de defender intransigentemente os interesses do Benfica.
Esta é aliás uma questão quente para os próximos tempos – a dos direitos televisivos. Amarrado a um acordo ruinoso, realizado no tempo de Manuel Damásio, Luís Filipe Vieira sabe que o Benfica tem aqui a sua “galinha dos ovos de ouro”.
Foi também a pensar nisto que foi criada a Benfica TV. A estratégia de Vieira foi pensada a médio prazo, por isso, inteligentemente, o Presidente do Benfica não fecha nenhuma porta – nem mesmo ao dono da Olivedesportos.
Sabe que Oliveira tem um contrato muito vantajoso, que o Benfica negociou em fragilidade, mas, como homem de negócios de bem, assegurou há muito que o clube cumpre os seus compromissos.
Agora, após a conclusão do prazo deste contrato, as coisas vão ser diferentes. Joaquim Oliveira também o sabe bem e sabe, ainda, que precisa, mais do que nunca, do Benfica. Quanto ao resto, a entrevista foi o espelho de um homem que sabe o que quer e para onde vai.
Marcelino e Baldaia bem tentaram alguma declaração mais controversa. Mas Vieira não se desviou um milímetro do caminho traçado. Foi neste “rumo certo” que os benfiquistas apostaram para os próximos 3 anos.
post-scriptum: O Benfica deu ontem boas indicações no jogo contra o Sion. Vê-se que ali já há dedo de Jorge Jesus. Apesar dos erros individuais da segunda parte, o que se viu na primeira é merecedor da nossa aprovação. Hoje, contra o Shaktar, exige-se a mesma motivação.