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Jun09
A MARCA
Pedro Fonseca
Os últimos dias foram marcados pelo anúncio da transferência milionária de Cristiano Ronaldo de Machester para Madrid. No vulcão mediático que se gerou, muitas doutas opiniões verberaram o dinheiro aplicado nesta operação – 94 milhões de euros.
Nada de mais errado. Florentino Perez sabe o que faz e o que faz fá-lo bem. O actual presidente do Real Madrid, conhecido por ter construído a famosa equipa dos “galácticos”, não investiu à louca. Pelo contrário, ele sabe que este e outros investimentos se pagam a eles próprios.
Estamos a falar, como já perceberam, de merchandising – que é a mesma coisa que dizer “venda de emoções”. Quantas “camisetas” de Ronaldo, de Kaká, de Villa, não se vão vender por estes dias na “Tienda Bernabéu”? E quem diz “camisetas” diz qualquer tipo de adereços que leve o nome destas estrelas…
Antes de começarem a chutar a bola no relvado do Santiago Bernabéu, estes novos galácticos já estão a fazer movimentar as caixas registadoras do Real Madrid. Por isso, os investimentos só são caros quando não trazem qualquer retorno.
Estamos a falar de merchandising, repito. Algo onde os clubes portugueses estão ainda na pré-história. Uns, FC Porto e Sporting, nunca poderão aspirar a recolher muitos frutos (verbas) desta actividade em virtude do seu mercado ser muito limitado – mais limitado o do Sporting do que o do FC Porto.
O Benfica, pelo contrário, tem perante si um mercado interno de seis milhões de potenciais clientes e um mercado externo que pode facilmente chegar aos 50 milhões. Poucos clubes no Mundo se podem gabar de ter tal dimensão e tal força de penetração ao nível das emoções que despertam. No passado, chamava-se a isto a “mística”, agora chama-se a “marca”.
Imaginem agora a febre que seria se juntássemos o passado glorioso, a mística e os êxitos desportivos do presente, que estão aí a chegar. Por isso, é que é preciso fazer uma inflexão nesta matéria do merchandising no Benfica.
O passado não foi risonho e as responsabilidades devem ser atribuídas à empresa que tinha essa tarefa (a TBZ). Eu sei, porque testemunhei, a insatisfação do Presidente do Benfica quanto ao trabalho que estava a ser feito nesta área. Agora, só pode melhorar.
Pensem nisto: quem consegue reunir mais de 500 pessoas num jantar à volta de um anúncio de que não se tem a certeza de que possa ocorrer, não deve temer os investimentos que estão a ser feitos, ou que possam vir a ser feitos. Basta que se saiba retirar deles o retorno devido, como o faz o Real Madrid, como vai estar preparado o Benfica para o fazer também.
Outro gerador de importantes receitas é o Museu do Real Madrid – o mais visitado museu de Espanha. Só quem tem uma História assim pode aspirar a garantir elevado número de visitantes. O Museu do Benfica é também um projecto com o cunho de Luís Filipe Vieira e, também ele, pode ser uma importante fonte de receitas. Por aqui se vê como o passado não é “coisa morta”, pelo contrário, deve ser fonte permanente de vida.
Mesmo sem retumbantes êxitos desportivos no futebol, ninguém pode renegar este mérito maior a Luís Filipe Vieira: ter levantado a marca e a mística do chão; ter, de novo, feito brilhar um nome que se arrastava na lama – Sport Lisboa e Benfica.
Post-Scriptum: Fez bem Luis Filipe Vieira em ter adiado o anúncio da sua recandidatura à Presidência do Sport Lisboa e Benfica. Há coisas que não podem ser ofuscadas por uma mera troca de camisolas.