Ciclos Longos e Ciclos Curtos
No inicio desta época quisemos esquecer tudo:
A demorada (ou prematura?) saída de Fernando Santos, o reencontro apaixonado com Camacho transformado em amuo e depois em divórcio, o triste serviço prestado (com a bonomia de sempre) por Fernando Chalana.
Quisemos principalmente esquecer a humilhação daquele quarto lugar atrás do Vitória de Guimarães e a 23 pontos do líder, F. C. do Porto.
Entramos, então, num tempo novo de todas as promessas, de todas as esperançadas glórias.
Prometeram-nos tudo. Apesar de não termos ido, uma vez mais, à Liga do Campeões reforçamos a equipe mais do que qualquer outro clube.
Mas não nos ficamos por aí. Contratamos (agora sim) Rui Costa – o "menino de oiro" que unia todos os Benfiquistas e que se despediu daquela forma grande de quem, mesmo no fim, estava em grande forma.
E mais ainda, contratamos Quique Flores. O mediático ex-treinador do Valência – jovem, conhecedor e ambicioso – um putativo Mourinho à moda de “nuestros hermanos” .
Tudo era feito (e perfeito) para nos fazer esquecer a amargura da época anterior.
E para que não restassem dúvidas de que “agora é que é” falaram-nos em estabilidade, num ciclo novo de pelo menos 2 anos, onde cedo ou tarde, se cumpriria a glória do Benfica.
Veio o Novo Ano de todas as esperanças. Vieram os novos jogadores. O novo director desportivo. O novo treinador…
Sem outras filosofias, quais foram os resultados:
O Benfica saiu envergonhado da Europa de segunda nível onde jogam os que, como nós, ficam nos lugares subalternos.
O Benfica saiu da Taça às mãos do raçudo (mas modesto) Leixões.
O Benfica está a lutar para segurar o terceiro lugar com o Braga e o Nacional.
O Benfica está já a 13 pontos do Porto (o já tetracampeão).
O Benfica está, uma vez mais, afastado da Liga dos Campeões.
Resultados maus! Ou não?
E então?
Será que quem prometia ciclos longos e estabilidade, vai pôr em causa o Novo Treinador, os Novos Jogadores, os Novo Director desportivo?
Os tais que precisavam de tempo, serão os primeiros a ser agora postos em causa?
E aqueles que nada ganham há já 4 anos (nem um mísero 2º lugar) e tudo prometem ano após ano? Desde a melhor equipe da Europa, a um campeão prevalente, por muitos, muitos anos…?
Não serão esses, os mesmos velhos de sempre, os verdadeiros culpados?
Os mesmos que prometem vitórias e estabilidade mas que ainda não deram sequer uma palavra de conforto e confiança ao novo Director desportivo?
Ninguém vê isto?
Dói-me muito perder. Principalmente nestas circunstâncias pouco edificantes.
Mas o que me dói mais é ver os que muitos dos que comigo partilham esta desilusão se deixam conformar com este velho embuste:
O de garantir ciclos longos para quem não tem feito bem ao Benfica e permitir ciclos curtos para quem não a teve oportunidade de se fazer cumprir no Benfica.
António de Souza-Cardoso