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Abr09
SIGA A RUSGA
Pedro Fonseca
De repente todos começaram a falar, a dar palpites, a conceber estratégias. Saltaram da cartola os mais prováveis e os mais improváveis, os mais credíveis e os desacreditados, os notáveis, os papagaios e os diletantes. E os demais que ainda estão para vir.
É isto o Benfica. Um Mundo. Um clube apetecível, sempre apetecível. Espreitam os treinadores empregados e os desempregados, os nacionais e os estrangeiros – uma oportunidade de ouro para treinar um dos clubes mais famosos do planeta.
Cemitério de treinadores? Que importa, vale mais ser rei por um dia do que plebeu toda a vida. Os treinadores de bancada agitam-se em fóruns e mesas-redondas, debates e análises, elucubrações e reacções.
O mundo gira, o país consome-se em crises e desemprego, mas o Benfica, que diabo!, é o Benfica. As televisões esfregam as mãos, na expectativa de audiências recordes. Os jornais prometem capas mais sensacionais para o dia seguinte.
A paranóia chegou a tal ponto que um destes encartados pensadores da bola, há muito arredio destas vidas, chegou a alvitrar que “o Benfica devia assumir que não vai ganhar nos próximos anos e, assim, poder reorganizar-se”.
Tudo isto depois de uma derrota, na Luz é certo. Meu Deus!, o actual presidente e ex-presidente do Sporting quase que chegam a vias de facto perante o país e tudo continua na paz do Senhor. O fc porto está a dois dias de um jogo que o pode colocar nas meias-finais da “Champions” e nem uma agulha bule naquela quieta melancolia.
O Benfica, nós somos o Benfica. E sendo o Benfica, a dimensão das coisas mais comezinhas atinge proporções inusitadas. A esta altura já estou a ouvir os meus simpáticos leitores: “Este gajo está em exercício de diversão”. Puro engano.
O Benfica, sempre o Benfica, é o que nos interessa e o que nos une. Por isso, não deixa de ser engraçado toda esta agitação. Os sócios agitam lenços brancos nas bancadas da Luz, mas amanhã e depois encherão com a mesma fé, o mesmo sonho, essas bancadas.
Porque o Sport Lisboa e Benfica é dos sócios, dos mais de 200 mil que nos tornam o maior clube do Mundo. E se há coisa que os sócios do Benfica não são é burros. Souberam sempre, nos momentos mais complicados, ter a lucidez de indicar o caminho.
Nunca precisamos de promover listas de assinaturas encomendadas para garantir vagas de fundo artificiais. Somos o Benfica, a democracia antes da democracia, o clube do povo, a alma de Portugal.
O que significa uma derrota perante esta realidade? Uma dor passageira, uma noite mal dormida, uma irritação conjuntural. Há o levantar do chão, sacudir o pó e recomeçar o caminho que nos há-de levar à vitória.
Basta de auto-flagelação, como disse Quique, certo por uma vez. Ser solidário não é ser acrítico, querer a união não é esconder os erros, apelar à serenidade não é ignorar que algo deve mudar.
A reflexão temos de fazê-la entre nós. Para já ainda há um caminho a percorrer, com os que estão connosco. Um objectivo a perseguir, um lugar a conquistar, uma “Champions” para alcançar.
Até lá, vamo-nos divertindo com o foguetório, a girândola de ilusões, o carrossel desenfreado. Siga a rusga.
Post-Scriptum: Tivessem os árbitros tido um comportamento idóneo em algumas partidas do Benfica, de que o último caso com a Académica foi paradigmático (e nunca nos esqueceremos do que aconteceu no Dragão) e mesmo com todos os erros técnicos e opções erradas estávamos em boas condições de alcançar o título.