06
Abr09
SOS
Pedro Fonseca
Tinha previsto escrever sobre uma sondagem referente a “marcas” e a sua penetração no mercado português, que apresentou resultados curiosos, e que foi divulgada nos jornais. Mas a fervilhante actualidade em torno do Benfica obrigou-me a mudança de planos.
As declarações de Quique Flores, sábado publicadas na imprensa, são algo do domínio do absurdo. O treinador espanhol já as veio parcialmente desmentir, na conferência de imprensa após o jogo de ontem contra o Estrela da Amadora, mas isso, por si só, não apaga o que foi dito e registado.
À pergunta se para ele “chega fazer melhor do que na última época, mesmo não sendo campeão?”, o treinador espanhol respondeu: “Sim, porque quando melhoramos os registos é sinal de que estamos melhor” (in “A Bola”, de ontem).
Bom, para os mais distraídos e esquecidos cabe lembrar que na última época ficamos em 4º lugar. Ou seja, Quique acha que se ficar em 3º é “injusto mandá-lo embora”. Ontem, na Amadora ficou perplexo porque tiraram as suas frases do contexto. Disse que o objectivo do Benfica é lutar sempre pelo máximo, mas voltou a frisar que está a fazer melhor que o ano passado.
Tive sempre a ideia de que o jovem Quique não percebeu a que clube veio cair. Apesar de ter jogado no Real Madrid, onde homens como D. Alfredo Di Stéfano ou Jorge Valdano ou Camacho poderiam ter sido bons explicadores, Quique vê-se que “não quis ouvir, nem quis ver”.
Será que ninguém no Benfica se deu ao trabalho de o ensinar? Mesmo assim, que diabo!, as fotografias colocadas nas paredes dos corredores da Luz deviam fazer luz no espírito do espanhol.
Eu sei que nos tempos que correm é estultícia pensar que se pode mandar um treinador embora só por um deslize linguístico. Quem gere sabe que os contratos são para cumprir e que uma rescisão acarreta sempre custos elevados.
O problema é que, muitas vezes, manter este estado de coisas traz custos muito mais elevados, mesmo inquantificáveis. Escrevi há uns tempos neste espaço que o Benfica é um clube a duas velocidades.
Não se pode estar a lutar pela verdade desportiva e, depois, a equipa no terreno não se mostrar capaz de ser a retaguarda forte desta batalha. Sejamos claros: Luís Filipe Vieira tem estado sozinho na luta pela verdade e pela transparência no futebol português.
Aquela que devia ser a muralha de protecção do Presidente do Benfica, a equipa principal de futebol, tem falhado em toda a linha. Os adeptos, sócios e simpatizantes, não têm faltado, como se viu recentemente em Almodôvar, mas esses também se podem rapidamente cansar se não virem sinais claros de mudança.
Acredito, quero acreditar, que ainda vamos conseguir o “prémio de consolação”, o 2º lugar, que pode dar entrada na Liga dos Campeões. Contudo, isso não pode servir para passar uma esponja sobre o que de muito negativo ocorreu durante a época.
Questiono-me sobre se a actual estrutura do Benfica pode dar garantias de êxito futuro. Um exemplo: a “equipa de olheiros” que veio há dias revelada no jornal “A Bola” não lembra a ninguém (com a excepção de Pietra, gostava de saber quais as competências específicas dos restantes). Enfim, muitos outros exemplos podiam ser dados, mas vamos esperar para ver.
E pedir aos jogadores um bocadinho mais de empenhamento, para continuarmos a lutar pelo título, será pedir muito? Mas, claro, quando o líder não dá o exemplo, o melhor mesmo é começar a acreditar em milagres.
Post-Scriptum: A primeira página do jornal “A Bola” de hoje diz tudo: “Exibição Miserável”. Que todos tenham consciência e um pouco de vergonha na cara.