"O Bode Expiatório e o Meio Presidente"
O
O jogo com o Sporting, com todo o sabor triste e amargo que nos trouxe, teve a bondade de nos permitir ver com mais clareza e adivinhar com melhor acutilância os próximos episódios da vida interna do Benfica.
Ainda o “banho de bola” não nos deixou de doer e já começámos a ver os dedos de muitos apontados ao espanhol Quique Flores de quem, ainda há tão pouco tempo, se exageravam (?) os méritos, a juventude e a ambição.
Quique Flores era, com o Menino Rui a face visível e radiosa do novo Benfica – de um Benfica regressado, para ficar (muitos anos diziam), à Sua Glória e verdadeira Condição.
Como a Europa se foi, tristemente, aos “pés” de um conjunto de equipes sem estatura ou dimensão (ainda ontem sofri só de ver jogar); como a Taça de Portugal voou, ingloriamente, perante o aguerrido mas modesto Leixões, ficava-nos ou fica-nos de importante para esta época, vencer o Campeonato Nacional.
O jogo com o Sporting veio pôr-nos mais longe dessa legítima e última ambição. E apesar de nada estar ainda perdido – o Campeonato tem esta natureza de nos pôr a sonhar durante mais tempo, já começo a ver a propaganda do costume a adiantar desculpas e justificativos e agora, como convém, a adiantar o esboço de um suspeito ou, até já, de um provável culpado.
Porque tamanho insucesso precisa de ter um culpado. E o sistema (que existe) e a incompetência e iniquidade da arbitragem e do dirigismo do futebol (que também existem) não chegam já para sossegar as hostes. Não chegam já para explicar porque levamos um banho de bola do Sporting, (ou 5 a 1 do modesto Olympiacos)?
Não foram eles que foram maus, fomos nós. E por isso precisamos, de entre nós, de apontar alguém que, por todos nós, venha a expiar a culpa de não sermos aquilo que nos prometeram (uma vez mais) que seríamos.
Nestas coisas é assim - a culpa inclina-se sempre para o lado mais fraco. E neste novo ciclo do Benfica (mais um..) o lado mais fraco é, sem nenhuma surpresa, o espanhol Quique Flores.
Não foi assim também no ciclo anterior com outro espanhol também glorificado e elevado ao epíteto de salvador, antes de ser mortificado e pronunciado como o culpado de então?
Por isso, meus Caros benfiquistas, sinto com muita tristeza que estamos a ver uma filme antigo – uma cansada “reprise”.
Que, com clareza, me parece que radica sempre no mesmo: temos um Presidente que não tem nada a ver com o Futebol. Tem com Estádios, Centros de Estágios, Fundações, Canais de Televisão e outras coisas assim.
Mas com o Futebol não! Pois se ele não marca golos, nem defende penalties!!!
E apesar disso, nós somos um Clube de Futebol – o Maior dizemos nós com toda a propriedade.
Mas, apesar disso, damo-nos ao luxo de ter um Presidente que não percebe nada de futebol, nem se acha responsável por nada do que lá se passa. Arranja (pede emprestado, claro) com competência o dinheirinho que é o mais difícil. No resto, é como Poncio Pilatos..
Parece aquele Pai ausente que acha que para educar os Filhos chega e sobra passar o cheque…
Sejamos francos. Vemos isto nos nossos rivais mais directos ou em qualquer outro Clube de dimensão Mundial?
Por muito menos Soares Franco pediu a demissão. E nunca Pinto da Costa deixaria que a figura principal da glória ou da crise fossem assumidas por Reinaldo Teles ou, até, por Jesualdo Ferreira.
É nesta liderança parcial, digo-o com toda a frontalidade, que começa a cultura da desresponsabilização e do “empurra pró lado” que tem roubado a mística e a atitude de que o Benfica tanto precisa.
Nesta meia (e envergonhada) liderança que permite que o Presidente do Benfica esconda as derrotas do Clube nas costas menos experientes do Menino Rui ou de Quique Flores, afinal aqueles que Ele próprio escolheu para liderar aquela outra parte que não sabe ou não quer liderar.
Estou cansado de perder e de ouvir os mesmos cantos de sereia. Mas não é minha intenção ser divisionista ou alarmista. Julgo, até que é nestas horas que devemos estar unidos.
Porque é verdade que nada está ainda perdido. Porque temos, de facto, bons jogadores. Porque está ainda ao nosso alcance fazer um bom colectivo e construir uma organização eficaz e responsável.
Para que isso aconteça precisamos saber exigir um Presidente inteiro, na decisão e na responsabilidade.
Para que isso aconteça não devemos arranjar, a meio da época, os habituais e distractivos bodes expiatórios.
Porque as responsabilidades, como as contas, apuram-se sempre no fim.
Viva o Benfica!
António de Souza-Cardoso