Podia chamar-lhe o Benfica Ecléctico, mas prefiro chamar-lhe o Benfica Global. Vou hoje abordar a questão das modalidades, centrando-me naquelas 5 que são consideradas as modalidades de alta competição: Basquetebol, o Andebol, o Hóquei Patins, o Voleibol e o Futsal. Mas podia falar de muitas outras, como, por exemplo, o paintball (é verdade... o paintball).
Ao longo da minha vivência benfiquista, tive várias referências, nomeadamente no futebol: Humberto, Chalana, Diamantino, Vítor Martins, Néné, Bento – seria estultícia da minha parte elencar todos os nomes que envergaram a camisola vermelha e que eu aprendi a glorificar.
Ao lado destes, não posso esquecer os nomes de Carlos Lisboa, Jean Jacques, Livramento, Ramalhete, Ricardinho, e os grandes do nosso atletismo, como António Leitão, José Carvalho, Anacleto Pinto ou agora os nossos Nélson Évora e Vanessa Fernandes.
Porque falo disto? Porque ao lado do eclipse das vitórias no futebol, na década de 90, também se verificou a mesma realidade nas modalidades. E se no futebol já se começam a ver fortes lampejos de luz, nas modalidades o sol também começou a raiar com intensidade.
Num caso como noutro, é só a partir da ascensão à liderança do Sport Lisboa e Benfica de Luís Filipe Vieira que se faz o regresso às vitórias. No futebol, a memória não nos trai – depois de 11 anos sem títulos, vencemos em 2003/04 a Taça de Portugal e em 2004/2005 o Campeonato e a Supertaça – todos sob a liderança de Vieira.
Nas modalidades, talvez que a memória esteja menos fresca. Por isso, aqui vai: no andebol, após 18 anos sem vencer o campeonato, regressamos ao título em 2007/08, e vencemos 2 taças da liga (2006/07 e 2008/09); a taça de Portugal não é ganha desde 1986/7 e a supertaça desde 1993/4.
Hoje, o andebol luta ombro a ombro por nova vitória no campeonato, e a recente vitória na taça da liga faz crer que o título máximo não irá fugir.
No basquetebol, os últimos títulos datam da década de 90, e não somos campeões desde 1994/5. Ainda revemos com um enorme prazer nostálgico as soberbas exibições daquele “cinco” mágico: Lisboa, Guimarães, Jean Jacques, Henrique Vieira e Mike Plowden. Gigantes que derrotaram os maiores da Europa, como o Real Madrid.
Hoje, comandados por essa glória que dá pelo nome de Henrique Vieira, vamos com 21 vitórias consecutivas e, tudo o indica, a caminho de vencer, de novo, o campeonato.
No hóquei, já vai longe o tempo das glórias do rinque, Livramento, Ramalhete ou Jorge Vicente. O campeonato não é ganho desde 1997/8, a taça de Portugal desde 2001/02 e a supertaça desde 2001/02. Este ano, com uma equipa jovem, estamos a poucos pontos do 1º lugar e face aos últimos resultados (nomeadamente a goleada infringida a FC Porto na Luz) com todas as condições para lutar pelo título no “play off”.
No voleibol, fomos campeões em 2004/05, quando não o éramos desde 1990/1, e ganhamos 3 taças de Portugal, em 2004/05, 2005/06 e 2006/07, o que não acontecia desde 1990/1. Este ano, as coisas não têm corrido na perfeição, mas a experiência de outra glória, que comanda a equipa há alguns anos, José Jardim, inspira todos os sonhos, até porque já vamos numa série de vitórias consecutivas.
Por fim, a nova modalidade, coqueluche das tv´s e dos pavilhões, o futsal. Pois aqui, o Benfica é rei e senhor, tendo sido 4 vezes campeão, 3 vezes vencedor da Taça e outras 3 da supertaça desde 2002/03. Neste período ainda foi finalista da UEFA Cup e da Taça das Taças. E temos um dos melhores jogadores do mundo, Ricardinho, muito assediado extra-muros mas que acabou por renovar com o Benfica.
E podíamos ainda falar das vitórias olímpicas de Nelson Évora e de Vanessa Fernandes, cujo ouro conquistado em Pequim, em Agosto passado, tornou o Benfica o clube português mais medalhado em Jogos Olímpicos.
Ainda recentemente, uma das nossas jóias da coroa, a Vanessa, assinou com o Benfica um contrato por mais 5 anos, num acto de gestão desportiva que merece todos os aplausos. Mas há mais. Falemos de infraestruturas…
Dois magníficos pavilhões, no complexo desportivo da Luz, são o sinal de que não é por falta de condições que os títulos vão falhar. Os nossos mais directos adversários ou não possuem qualquer equipamento, andando de casa às costas (Sporting) ou só agora estão a concluir um minimalista pavilhão, que não chegará para as encomendas (FC Porto).
Mas há mais. Enquanto o Benfica tem estas 5 modalidades de alta competição, o Sporting apenas possui 2 (futsal e andebol) e o FC Porto 3 (andebol, basquetebol e hóquei). Parece que já estou a ouvir: está tudo muito bem, mas o futebol?
Podem as vitórias nas modalidades substituir as do futebol? Não podem, claro. Nem o seu contrário é verdadeiro. Mas quando lemos Henrique Vieira, em recente entrevista a “A Bola”, dizer qualquer coisa como isto: “Todos os meses temos reuniões com o Presidente”. Sabemos que o Benfica Global não é hoje uma expressão nem um conceito sem sentido.
É uma ideia, um ideal, um espírito. Que já sofreu muitos tratos de polé (ai se Cosme Damião soubesse!), mas que tem vindo a reforçar-se, a fortalecer-se, numa lógica que passa por pensar uma instituição como um todo, no futebol e nas modalidades, e mesmo muito para além das paredes do estádio, dos pavilhões e das piscinas. E muito, mas mesmo muito, para além das próprias fronteiras pátrias. É este o Benfica Global que amamos.
Post-Scriptum: Nas últimas semanas, Luís Filipe Vieira celebrou um acordo de grande envergadura com a Sagres (Centralcer), cujo valor é invulgar para o mercado português. A Sagres vai passar a patrocinar todas as modalidades do Sport Lisboa e Benfica. Mais um acto de gestão de relevante significado para o engrandecimento do Benfica Global.