O Jogo da Época
O Benfica joga no próximo Domingo aquele que é, provavelmente e à luz do contexto actual do clube, o jogo da época.
Em primeiro lugar porque é, infelizmente, o que nos resta de valioso para ganhar. Espero a este propósito que o Benfica (tal como Porto) poupe no jogo de hoje com o Guimarães os seus jogadores mais influentes. Não apenas por o jogo é apenas com o Guimarães, mas ainda porque o jogo é ainda (e só) da Taça da Liga. Uma Taça feita, pelos usos e pelos vistos, para promover as rodagens dos bancos e para entusiasmar aquelas equipes que nunca ganham nada de verdadeiramente relevante.
Em segundo lugar porque a matemática nos obriga a ser realistas e, sendo o Porto o nosso principal opositor neste desiderato, os pontos que se ganham e perdem devem ser multiplicados por dois. Quer dizer, estão seis pontos em disputa no que à liderança do campeonato diz respeito. Para ainda ser mais sugestivo e preciso – no limite, o Benfica alcança a liderança e deixa o Porto a 2 pontos, ou o Porto reforça a liderança e descola 4 pontos do Benfica.
Em terceiro lugar porque é mais um jogo onde, uma vez mais, se discutem hegemonias: Entre o ainda maior Clube Português e aquele que tem ganho mais vezes nos últimos 20 anos. Entre aquele que ainda é e aquele que já reclama ser.
É por isso, também, um jogo que pode mudar psicologicamente qualquer das equipes:
O Porto que não tem a mesma qualidade e desempenho de épocas anteriores, pode galvanizar-se neste jogo e reforçar a convicção de que começou com novos valores mas que, entretanto, foi possível integrá-los e adaptá-los à cultura ganhadora do Clube que volta a ter níveis elevados de eficácia e desempenho.
O Benfica porque gastou mais 30 milhões para criar novamente valor na equipe. Porque reiniciou um novo ciclo, com um novo treinador e um novo director desportivo. Porque quer provar que mais do que um conjunto de estrelas, tem hoje um colectivo e uma organização capazes de o reabilitarem como Clube Glorioso e Vencedor.
É ainda um jogo que pode unir e conciliar os adeptos de cada Clube. Os do Porto que não gostam muito de Jesualdo e que sentiram a “tremideira” do inicio de época.
Os do Benfica que não se sentem compensados pelo apoio extraordinário que têm dado ao clube e que estão sinceramente cansados de novos ciclos e novas promessas.
Os do Porto e os do Benfica que arrostarão por muitos dias a vergonha da derrota ou que gozarão truculentamente o excelso sabor da vitória.
Espero que um e outro Clube não tenha benefícios ou prejuízos externos á capacidade que vierem a demonstrar em campo. Quer dizer - espero que a equipe de arbitragem esteja á altura da enorme responsabilidade deste jogo.
Não escondo que tenho medo que isso não aconteça e que o clube mais vulnerável, a julgar pelo histórico deste campeonato, é o Benfica.
Isso seria muito mau:
Porque reforçava a suspeita que todos temos da persistência do “sistema”.
Porque prejudicava, uma vez mais, o nosso Clube na única competição valiosa que ainda tem para ganhar.
E, não menos importante, porque dava pretexto aos benfiquistas mais conformados de justificaram mais este adiamento, mais esta declinação do Benfica.
Espero com sinceridade que isso não aconteça e que o Benfica se não adie, nem decline, um único dia mais.
O primeiro passo para isso é ganhar no Domingo no Dragão... o jogo da época.
António de Souza-Cardoso
PS: Espero ainda que, resistindo á tentação de “ficar próximo” do líder, o Benfica só jogue para ganhar. Porque deve ter sempre essa têmpera e essa ambição ganhadoras. Mas também porque se o não fizer, arrisca-se verdadeiramente a perder o jogo. Que assim não seja!