A Entrevista de Luis Filipe Vieira
Gosto muito do Jornal “A Bola”. Compro-o desde miúdo. Mas sei que a razão porque gosto dele é a mesma porque os Portistas escolhem o “Jogo” e os Sportinguistas preferem o “Record”.
Não estou a pôr em causa a independência jornalística dos colaboradores da “Bola” mas há jornais de tendência e no desporto isso é muito nítido, talvez até por razões de mercado – três diários desportivos, três habituais candidatos ao título…
Gosto muito do Pedro Fonseca. Conhecia-o por razões mais institucionais que relacionam a minha vida profissional com a dele. Mas conhecia mal o Homem e ainda menos o apaixonado Benfiquista. E fico a dever ao “Novo Benfica” o ter-me dado a oportunidade de conhecer realmente o Pedro. Amigo leal, de trato dócil e envolvente e de coração franco e aberto. Não posso exagerar nos qualificativos porque já falei dos dois intrépidos abraços que demos nos inglórios golos contra o Nápoles e começo a ter verdadeiro receio de más interpretações.
Mas a verdade é que o Pedro quando fala do Benfica tem uma abordagem quase pueril, de quem se despoja de tudo e fica apenas, mimadamente, com a sua mais genuína e vincada devoção – o Benfica. É um puro, portanto, e um benfiquista primário, também.
O Pedro Fonseca está, em suma, para o universo dos associados e simpatizantes do Benfica na mesma exacta e excessiva proporção que “A Bola” está para o jornalismo desportivo.
São assim, portanto, um e o outro, refúgios de confiança de que gostamos muito.
Estes estimados “portos de abrigo”, por reconfortantes que sejam não devem no entanto diminuir o nosso espírito analítico e condicionar a nossa intervenção pedagógica sempre que achamos que as coisas não estão a correr bem.
O amor clubístico é difícil de medir e não deve, principalmente, ser confundido com o apoio cego e incondicional a todas as acções perpetradas por quem, circunstancialmente, representa o Benfica.
Tal como com os nossos Filhos (de que todos nós tanto gostamos), é um erro achar que se gosta mais quando se enaltecem todas as qualidades ou quando se perdoam todos os defeitos.
Por isso, não faço nunca comparações entre os amores dos benfiquistas “primários” como julgo que é o Pedro e dos Benfiquistas secundários, onde julgo que me reconheço melhor.
Isto tudo a propósito não só do último balanço de 2008 feito neste Blog pelo Pedro, mas também do artigo que fez no excelente “O Inferno da Luz” sobre a entrevista de Luis Filipe Vieira ao jornal a “Bola”.
Num e noutro caso o Benfica parecia a Alice, com o regaço cheio das maravilhas alcançadas durante o Ano de 2008
A entrevista, pode dizer-se, foi a primeira (e boa) entrevista de campanha de Luis Filipe Vieira. Feita provavelmente ao jeito do que ele gostaria e, por isso, não inocentemente, conduzida e editada pela “Bola”.
Falou-se pouco sobre um verdadeiro balanço desportivo do ano de 2008 que, por mais voltas que se dê, não é tão “glorioso” quanto todos gostaríamos. Falou-se quase nada, de que alguns dos mais importantes objectivos de 2009, ficaram já, ingloriamente comprometidos em 2008. Falou também escassamente sobre a intermitência exibicional de um plantel longo e caro como o nosso. Falou-se ainda menos sobre a responsabilidade de retomar um Benfica Campeão.
Falou-se muito dos muitos anos em que não fomos, como agora, “campeões de Inverno (o novo titulo que arranjamos e que acho francamente que só nos diminui).
Falou-se do Apito Dourado e do Apito Final e, apesar do menor sucesso nos resultados jurídicos, da vontade que se aplaude de prosseguir na defesa da verdade desportiva, na luta sem quartel que deve ser dada às forças e aos rostos de um “sistema” que, todos sabemos, está longe de ser isento e volta a ganhar confiança pelas sucessivas dilações e declinações da justiça.
Falou-se muito na regeneração das “amadoras”, na credibilização do Benfica, no novo empréstimo obrigacionista – que parece já não ser (e ainda bem) para comprar novos jogadores, no Benfica TV que está ainda por cumprir), no futuro Museu, e em tantas outras coisas que contribuirão certamente para o engrandecimento do Benfica mas que eu espero não desviem ninguém do essencial – o compromisso adiado de sermos Campeões.
A razão de ser essencial do Benfica que não é ser empresa, nem sociedade de advogados, nem é explorar televisões ou dedicar-se à museologia.
A razão de ser essencial do Benfica é ganhar. É ser campeão. E este deve ser, por isso mesmo, o primeiro e mais decisivo critério de avaliação do desempenho dos seus dirigentes, técnicos e jogadores.
Na vida há um tempo de semear e outro de colher. Mas há um tempo. Não há sempre semeadura sem colheita ou com colheita estragada, por causa da trovoada, do adubo ou de um bando de corvos….
Julgo que todos perceberam já o alcance das minhas palavras.
O Benfica que recuperou estabilidade e credibilidade muito pelo esforço da equipe liderada por Luis Filipe Vieira, não pode estar sem ganhar, nem vibrar com campeonatos de inverno, ou medalhas olímpicas ganhas pela … Argentina.
O Benfica de Suazo, de Reyes, de Aimar, de Luisão, de Sidnei, de Di Maria, de Cardozo, de Katsoranis, de Quim, de Carlos Martins, de Ruben Amorim, de Nuno Gomes, tem que ganhar.
Porque tem tudo para ganhar.
Até estabilidade.
E principalmente, como bem disse Luis Filipe Vieira, o melhor activo que qualquer Clube pode ter – Uma massa associativa que à razão média de 43 mil espectadores tem apoiado a equipa como nenhuma outra massa associativa.
Luis Filipe Vieira nesta interessante entrevista à Bola foi de resto, como eu, um Benfiquista secundário quando denunciou os tempos de João Vale e Azevedo e criticou todos “aqueles que nunca se atreveram a questionar o caminho que estava a ser seguido pelo Clube”. Porque isso é, para mim, obrigação de qualquer Benfiquista, quando o Benfica não ganha, ou se afunda, ou se descredibiliza.
Por isso, embora vá empurrando responsabilidades e autonomias para o menino Rui Costa, Luis Filipe Vieira mostrou, nesta primeira entrevista de campanha, que sabe bem que o anúncio de novos ciclos e refulgentes estrelas para o Benfica já acabou.
Luis Filipe Vieira sabe bem que não chega correr muito, fazer boas fintas e jogar sempre bonito. Há um tempo, em que é preciso marcar. E, ou tudo o resto está ao serviço deste desiderato final, ou infelizmente, de pouco vale.
Luis Filipe Vieira sabe bem que até Outubro tem que ser Campeão.
Até lá, com o Pedro e os outros 42.998 Benfiquistas, cumpre-me continuar a apoiar o nosso Benfica.
E a acreditar que quem deu estabilidade e credibilidade ao Clube é, seguramente, quem melhores condições ainda tem para cumprir o mais importante, que é fazer do Benfica o verdadeiro e único Campeão.
António de Souza-Cardoso