09
Jun08
Afirma Platini
Pedro Fonseca
Platini foi um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Como Presidente da UEFA está a fazer jus ao estatuto que ganhou nos relvados com a camisola 10 da Selecção francesa e da Juventus.
Despidas as camisolas, tirados os calções e descalçadas as chuteiras, depois de uma carreira memorável, ao nível dos imortais, Michel Platini abraçou a de treinador, como fizeram outros magos como ele: Beckenbauer, Cruyff ou Zico, para só nomear alguns, sendo seleccionador dos “Bleus”, entre 88 e 92, mas foi na área do dirigismo que a sua imagem de homem moderno e credível iria reclamar o mesmo estatuto que teve como jogador.
Hoje detém por mérito próprio a Presidência da UEFA, o máximo organismo do futebol europeu. Quando foi eleito, em Janeiro de 2007, numa luta renhida com o anterior presidente, Johansson, no cargo há 17 anos, prometeu apostar na vertente mais social da indústria do futebol, em detrimento da económica.
Ora, Platini sabe bem que para a sua estratégia ter frutos é preciso que a imagem do futebol seja uma limpa, séria, transparente, idónea. Só assim a indústria pode prosperar; só assim o espectáculo pode merecer o dinheiro que custa um bilhete; só assim os patrocinadores se sentem ressarcidos dos seus investimentos; só assim as famílias regressarão aos estádios; só assim as televisões fornecerão um serviço de qualidade reconhecida, pelo qual exigirão o preço justo aos consumidores e pagarão aos clubes as verbas a que eles têm direito.
O pior que pode acontecer à indústria-futebol é estar a vender gato por lebre. Platini tem consciência que o combate por um futebol sem batota é um combate difícil mas decisivo para salvar o futebol-espectáculo.
Na sua Presidência, já pode apresentar na folha de serviços as penalizações ao AC Milan e à Juventus, a propósito do CalcioCaos, e ao FC Porto, devido ao “Apito Final”. Se alguém tinha dúvidas sobre ao que vinha Platini, deve tê-las perdido na última sexta-feira.
Questionado sobre o castigo aplicado ao FC Porto, Platini disse: “Esta é uma mensagem muito forte contra a batota”. Não sei se Gilberto Madaíl e Jorge Nuno Pinto da Costa perceberam bem as palavras do Presidente da UEFA, que nisto de traduções estes dois amigos têm uns critérios muito largos.
Quando jogava, o grande Michel Platini destacava-se no campo, cabeça levantada, passes milimétricos, livres indefensáveis, inteligência em movimento. O mesmo Platini que nos deu tanto prazer ver jogar, é o mesmo que agora veste fato e gravata, despacha num gabinete em Nyon e dá conferências de imprensa onde também está de cabeça levantada, as palavras são milimetricamente certeiras, e atingem sempre o alvo. Inteligência em movimento.