A argamassa.
Avignon. O Mistral sopra impiedoso, talevez amuado pela minha ausência de um par de anos. Ontem fiz uma alucinante maratona de Barcelona até aqui para ver a Selecção Nacional e valeu a pena, só aos emigrantes dou o direito de estarem mais satisfeitos do que eu. Hoje revisitei o Palácio dos Papas e a ponte que uma canção/dança tornou imortal, com o permanente receio de uma greve dos músculos das pernas pior do que a anunciada pelos camionistas. 14 horas, Place de l´Horloge. O carrossel em que vi o meu neto mais velho rodar entre gargalhadas deliciadas; o empregado com o sorriso maroto; o rumpsteak avec frites que me acordou a saliva; o rosé fresquinho que a mucosa gástrica pagará dentro de uma hora ou duas. O telefone. Na minha idade, um arrepio na espinha garantido, as boas notícias são derrotadas pelas más com a mesma nitidez da vitória de Nadal sobre Federer em Roland Garros. O alívio - uma voz amiga e benfiquista, que se dava ao trabalho de me falar para o anúncio de um título nacional para a nossa "garotada". Fiquei a meditar na sorte que tenho: alguém que poderia ser meu filho perdoa-me a rabujice de quase sexagenário, o estatuto de agnóstico inveterado e os ideais políticos divergentes dos seus por essa fraterna argamassa que nos unirá até à (minha) morte - ambos somos definitiva, desesperada e tragicamente benfiquistas:). (Longe de mim negar que outros clubes despertam tasi afectos, limito-me a gozar os nossos!)
P.S. Enquanto escrevia este post, chegou um sms com a mesma origem - ganhámos em Alvalade 6-4 em Futsal. Percebem porque sou um felizardo grato?