Venham Lá Eles!
Escrevo algumas horas depois de ver o Porto ganhar aos Paços de Ferreira e somar a segunda vitória na Liga. Acho sinceramente que o Paços é uma equipe de “trazer por casa”. Quero dizer, uma equipe que, como se viu com o Benfica, será muito difícil de bater no seu reduto. Mas, ao mesmo tempo, uma equipe que fora da Mata Real dificilmente conseguirá surpreender os seus adversários. Sem estar em causa a justiça da vitória (o Paços não deu um único passo para a contrariar), confirmei neste jogo que esta equipe do Porto não tem nem a estatura, nem a categoria de épocas anteriores. Depois de dispensar os seus principais artistas, o que obrigou a uma renovação de banda mais larga que o quem sido habitual, o Porto não conseguiu reequilibrar a equipe porque apesar das muitas contratações, não assegurou nenhum valor indiscutível – nem “Cebola” que na equipe do Porto joga até chorar, mas sem qualquer consequência ou eficácia colectiva. Depois, Lisandro perdeu (ou ainda não ganhou) o codícia e a fortuna da época anterior e Lucho parece o solitário “Comandante” de uma “Armada” que está longe de ser “Invencível”. Tivemos, assim, no jogo de ontem (e julgo que teremos para o resto do campeonato) um Porto corrente que se bebe mas não deslumbra que até pode cumprir, se não for chamado a desígnios maiores. Não é por acaso que os sócios se inquietam e assobiam. Não é por acaso que Jesualdo evoca, em desespero, as sequelas do apito final. O Benfica, por seu lado, decide boa parte da época nos próximos 6 dias. Com o Nápoles joga a continuidade europeia. Imprescindível numa equipe nova que se quer cumprir. Difícil, claro, mas obviamente à altura de que tem a ambição de voltar a ser grande. Com o Sporting, joga a credibilidade interna. Não só porque se perder fica a 7 pontos do Sporting e a 3 do Porto logo à 4ª jornada. Mas também porque estas derrotas importam prejuízos anímicos (e matemáticos) sempre mais explícitos nos confrontos com os opositores directos, com quem ainda por cima jogamos em casa. Para estes dois jogos o Benfica tem que entrar com determinação e vontade de ganhar, mas também com níveis de concentração que possam dar tranquilidade à equipe (pareço o Paulo Bento..). Disse aqui (e fui contrariado por muitos) que o melhor ataque é a defesa, por constatar que uma equipe se faz de trás para a frente e que as equipes que nas últimas décadas têm dominado o futebol português são aquelas que apresentam, em determinado período, as melhores defesas. Não gosto do futebol defensivo e demasiado taticista, mas compreendo o valor que tem estar seguro a trás para poder accionar com despreocupação a “tracção à frente”. Infelizmente o Benfica atropelou-se em reforços do meio campo para a frente e não se reforçou como devia na defesa.Com o Paços de Ferreira viu-se a fragilidade da nossa defesa (bem sei que não é a habitual) que inspira tal segurança que o próprio Quim parece contaminado por uma preocupante crise de confiança (ou será Macumba do Sr Scolari?). Também me pareceu que Quique fez demasiadas flores nas substituições do jogo com o Paços e insiste em colocar Aimar numa posição em que ele não rende (ainda nos vai convencer que o jogador pouco acrescenta a esta equipe). Boas surpresas (ou talvez não..) São Yebda, Martins e principalmente Ruben Amorim. Para mim o mais esclarecido e promissor dos jogadores que contratamos esta época. Como uma inteligência e uma leitura global do jogo muito raras no futebol português. Pena que esteja sempre num periclitante “entra e sai” e que o desperdicem colado ao lado direito para compensar um pretenso defesa direito que não temos. Reyes também me parece ter um potencial enorme e uma imensa capacidade de explosão. Ao contrário, Di Maria veio demasiado deslumbrado dos Olímpicos e precisa de se reencontrar com esta equipe. Bem, chega de especulações. Venha lá o leãozinho e depois o Nápoles. Venham Eles para o começo do caminho, outra vez glorioso, deste Novo Benfica. António de Souza-Cardoso