Cãimbras na Ambição
No passado sábado dei por mim a comparar as exibições de Rolando e Reyes. Por detrás do defesa central existe um curriculo como tantos outros e um futuro totalmente em aberto. No currículo do espanhol está inscrita a participação nos campeonatos e provas mais relevantes do futebol actual, em grandes clubes da Europa.
Mais do que isso: a garagem de um começa a encher-se, a do outro já foi ampliada três vezes. Para Rolando, a sua carreira joga-se em cada lance, em cada estádio, chame-se ele Estádio da Luz ou Mata Real. Chegado a casa no seu Ferrari vermelho, depois de uma deslocação ao Caldeirão dos Barreiros, Reyes liga-se ao Youtube e passeia pela compilação de grandes momentos da sua carreira.
Estava eu nisto quando me lembrei de José Mourinho, acabado de chegar ao Porto. Com um plantel de "Rolandos" juntou a sua ambição à ambição de todos os jogadores e levou-os ao topo do Mundo.
A contratação de estrelas para o plantel do Benfica, por mais que sirva para salvar uma direcção, calar os adeptos e promover Rui Costa a "melhor gestor de futebol" do planeta tem um grande problema: são estrelas em segunda mão. Pablo Aimar é um carro que poucos benfiquistas comprariam depois do test-drive de algumas jornadas (e de facto já encostou à box). Já Reyes e Suazo resta ver como se vão enquadrar num ambiente competitivo "diferente" como é a Primeira Liga, a Taça de Portugal, a Liga Carlsberg e a Taça UEFA.
Tenho visto muita gente falar no efeito motivador que estes craques trazem para o plantel. Mas qual será a reacção de um Ruben Amorim ou de um Di Maria se esses mesmos craques forem obrigados a jogar em virtude dos ordenados que auferem e não pelo seu comportamento desportivo? Mais do que isso, aqueles jogadores como Katsouranis, Luisão e Nuno Gomes, que já mais do que uma vez deram sinais de acomodamento, podem rapidamente num quadro de resultados desportivos desfavoráveis condenar a ambição e a saúde mental do nosso plantel.
Por estas razões, elejo como verdadeiras estrelas do Benfica Yebda, Carlos Martins ou Sidney. Sem currículos nem Youtube a que se agarrar, estão de corpo e alma neste Benfica. Sem memória, só futuro.
Todos os jogos são jogos de Champions League.
O Sporting através da sua Academia e o FC Porto através da sua política de contratações têm equipas construidas em movimento ascendente. O Benfica assemelha-se a um Inatel errático onde o núcleo duro da equipa parece surgir de uma futebolada nostálgica de antigos colegas da primária. Com direito às caimbras e roturas da praxe.
Neste momento a pressão está toda em Quique Flores. Conseguirá este homem gerir passados e futuros no balneário e num intervalo em que o resultado é desfavorável apelar ao orgulho, ao brio, à ambição dos seus jogadores, obrigando-os a superarem-se para vencer o Leixões? Ou muito me engano ou Quique será mais facilmente salvo por Urretas do que por Suazos.
Numa equipa em construção, onde a probabilidade de ocorrência de resultados desfavoráveis é maior, penso que a opção por monstros sagrados em fase descendente da carreira e vínculos precários ao Benfica pode constituir um erro estratégico na construção do Benfica 2008/2009 e do Benfica 2015.
Por muito que me custe, e por mais contraditório que possa parecer, penso que a contratação destes jogadores serviu no curto prazo os interesses da Direcção.
Resta saber se a médio prazo servirão os interesses do Benfica.
Saudações Benfiquistas,
MO