A exibição no primeiro jogo da Selecção Nacional neste Mundial 2010 dificilmente poderia ser mais à semelhança de Carlos Queiroz – mostrou-nos uma equipa receosa, nervosa, sem chama ou garra.
O único momento em que a Selecção se soltou, poderia ter resultado no golo mais espectacular do Campeonato – aquele remate de Cristiano Ronaldo ao poste, que levou o próprio Drogba a benzer-se de alívio.
Em praticamente todo o restante jogo, a nossa Selecção foi uma presa fácil da boa organização da Costa do Marfim, tacticamente quase perfeita a marcar em cima, sem deixar tempo e espaço aos nossos jogadores para “pensarem” o jogo.
Tornou-se evidente que, salvo raras excepções, a nossa Selecção se conformou com a ideia de que o mais importante era não perder.
O Eduardo e os jogadores da defesa estiveram bastante bem, com destaque para a exibição defensivamente sem mácula do Fábio Coentrão, jogando de uma forma tão decidida que até parecia que era o Jorge Jesus quem estava no banco.
Ficamos sem saber se o facto de raras vezes ter subido pelo seu corredor se ficou a dever a instruções nesses sentido dadas por Carlos Queiroz, ou impossibilidade real, atendendo a que a maioria das jogadas de ataque da Costa do Marfim se desenrolavam pelo seu lado.
De qualquer forma, é da mais elementar justiça destacar o grande jogo que Fábio Coentrão realizou.
Quanto ao meio campo da Selecção, foi demasiado leve, previsível e lento de movimentos, para conseguir incomodar os física e tacticamente poderosos jogadores da Costa do Marfim.
No ataque, apenas Cristiano Ronaldo deu um arzinho da sua graça, uma vez que Danny nada fez de útil em campo, falhando inúmeros passes e chegando sistematicamente atrasado aos lances e Liedson foi um erro de “casting”, lançado às feras numa luta desigual contra defesas muito mais possantes.
Com Simão Sabrosa em campo, a equipa soltou-se mais, mas faltou nitidamente um jogador alto e forte na área, do tipo do Hugo Almeida, para dar luta aos defensores da Costa do Marfim.
A entrada de Rúben Amorim – embora seja de saudar de forma inequívoca – leva-nos a pensar que algo estava mal na convocatória.
Se o Rúben não foi considerado, por Carlos Queiroz, como um convocado indiscutível, por que razão foi ele o escolhido para entrar em campo, rendendo Raúl Meireles, em detrimento de outros jogadores que integraram a convocatória desde o princípio? A resposta é óbvia - porque Rúben Amorim é um jogador que, tal como Fábio Coentrão, joga à Benfica, imbuído que está do espírito de luta e de conquista que lhe foi incutido por Jorge Jesus.
Esta conclusão leva-nos a outra: o Carlos Martins, na forma em que terminou a época, seria certamente muito mais útil à Selecção do que um Deco queixinhas, incapaz de dar o litro, de “comer relva”, como se impõe numa competição como o Campeonato do Mundo.
A esta Selecção falta, claramente, um treinador com espírito de conquista, que não se acobarde como tantas vezes aconteceu ao longo dos jogos de qualificação.
Que não ceda a pressões e interesses de agentes de jogadores, mas que transmita a estes a ideia de que devem disputar cada jogo como se fosse o último das suas vidas.
Só assim será possível continuar, com dignidade, nesta competição, a começar já pelo jogo contra a Coreia do Norte, uma equipa extremamente aguerrida e à qual apenas poderemos derrotar se lutarmos do princípio ao fim.
Precisamos, urgentemente, de uma Selecção que jogue à Benfica!