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O nosso Grande Benfica não para de nos surpreender. Desta vez, a propósito das eleições e, certamente, sem nos dar razões para nos sentirmos orgulhosos.
Que me lembre, é a primeira vez em que tantas circunstâncias pouco habituais se entrecruzam, a saber:
1 - As eleições foram antecipadas – no meio de grande polémica – tendo levado um sócio a apresentar uma providência cautelar com vista a suspender a aplicação da decisão de antecipação. Entretanto, sem qualquer explicação plausível, o mesmo sócio desistiu da providência cautelar que havia interposto – antes mesmo de a mesma ser apreciada pelo Tribunal - apenas alegando o seu Advogado que “Nos últimos dias estava a ser procurado por muita gente, por isso resolveu desistir para preservar a tranquilidade familiar”. Passará pela cabeça de alguém, ao interpor uma providência cautelar relativa às eleições do Benfica, com todo o mediatismo que tal necessariamente implica, que irá passar despercebido? Convenhamos que não é propriamente o mesmo que requerer o arresto de uma viatura de um qualquer cidadão anónimo…
2 - Temos duas candidaturas apresentadas com os pré-requisitos cumpridos – a de Luís Filipe Vieira e a de Bruno Carvalho - e uma outra candidatura – a de Carlos Quaresma – que nem sequer apresentava um número suficiente de elementos para preenchimento dos órgãos sociais (apenas apresentou 11, quando deveriam ser 20…), pelo que não foi possível validá-la.
3 – A candidatura de Bruno Carvalho foi apresentada a bordo de um avião e confesso que até hoje me escapa a lógica de tal aparato. Parece-me que, desta vez mais do que nunca, precisamos de candidaturas com os pés bem assentes no chão. Não consigo perceber qual a mais-valia (excepto para a TAP) de ser apresentada uma candidatura num avião especialmente fretado, numa altura em que há tantos Benfiquistas que se vêm obrigados a escolher entre pagar as quotas do Clube do seu coração, ou fazer umas comprinhas necessárias no supermercado…
3 - As duas candidaturas apresentadas e validadas em princípio, encontram-se sob análise, devido a eventuais incompatibilidades estatutárias.
A de Luís Filipe Vieira por Bruno Carvalho alegar não ser estatutariamente possível os membros de órgãos sociais que apresentem a demissão recandidatarem-se antes de decorridos seis anos;
A de Bruno Carvalho por, alegadamente, não possuir um número de anos suficiente, como sócio do Benfica, para lhe ser estatutariamente possível candidatar-se a Presidente do nosso grande Clube.
Ou seja e no limite, se as objecções levantadas a estas duas candidaturas fossem atendidas por quem de direito, nenhuma delas poderia seguir por diante! De repente, umas eleições antecipadas ficariam desertas, uma vez que já não é possível apresentar qualquer outra candidatura a tempo da data marcada para as eleições.
4 – Uma outra putativa candidatura – a do Movimento Benfica, vencer, vencer – não chegou a passar de um projecto, uma vez que o candidato supostamente escolhido há cerca de três meses (José Eduardo Moniz) afinal só terá sido convidado à última da hora e não teria tempo para preparar devidamente a sua candidatura. Será que se tratou de uma segunda escolha, a qual só avançou depois da recusa de outro potencial candidato?
5 – Ainda quanto a esta última hipótese de candidatura, surge agora uma teoria de eventual conspiração, a fazer lembrar os tempos de 1580. Os castelhanos estariam a preparar-se para tomar de assalto o Benfica, visando os potenciais lucros que lhes poderiam ser propiciados pela marca e pela televisão privada.
No meio de todos estes factos, ditos e desditos, ficam os Benfiquistas com um sabor amargo na boca. Bem sei que o Benfica é um alvo extremamente apetecível, mas será que não poderíamos ter uma campanha um pouco mais normal?
E será que, após as eleições – sejam elas quando forem e com quem forem – seremos capazes de fechar as feridas profundas que têm vindo a ser abertas?
Os nossos adversários mais directos esfregam as mãos de contentes com o circo que está montado e só esperam que, no final, a barraca venha abaixo.
Compete a nós, Benfiquistas habituados a cair e a reerguer-nos, unir esforços para evitar que tal aconteça. Compete também a nós, Benfiquistas indefectíveis, transmitir aos nossos candidatos que não gostamos que ofereçam aos nossos adversários, de mão beijada, motivos para sermos objecto de chacota.
PS – Ao meu amigo António de Souza-Cardoso, que fez o favor de se referir (também) a mim no seu último post, gostaria de esclarecê-lo: de facto sou, em princípio, apoiante do actual Presidente do Benfica, pelas razões que apontei no meu post “Certezas e Equívocos – Parte 2”, mas prezo-me de ter o espírito suficientemente aberto para analisar as alternativas. Quanto a estas, confesso que esperava bastante mais.