Quem Foi que falou nas Eleições do Benfica?
Tive com o Bruno Carvalho o prazer de fundar este Blog e de, na carta convite que enviamos a alguns amigos benfiquistas, rabiscar um conjunto de princípios orientadores da nossa acção e não tanto da nossa Missão que era (e é) servir o Benfica.
Não pretendíamos com estes princípios definir o que éramos. A nossa condição de benfiquistas convictos e apaixonados - “doentes” como se diz saudavelmente no Norte, era (e é) tida com um pressuposto absoluto. O que pretendemos foi, desde logo, definir o que não queríamos ser.
E dissemos logo que não queríamos ser um grupo de facção.
Sabíamos já nessa altura, não descobrimos depois, que existiam diferentes sensibilidades na forma de ver e analisar o Clube e até diferentes valorações sobre a forma como o Clube tem sido dirigido ao longo do tempo. Achamos que essa diversidade, que nos levava a discutir uns com os outros entusiasticamente era enriquecedora para o projecto e valorizadora dos seus resultados.
Os “unanimismos”, sempre que se pretende analisar e reflectir com vista a promover melhorias, surgem sempre como redutores - por mediocridade (ou medo da hierarquias) ou, mais simplesmente, por falta de empenho na matéria ou no contraditório.
A única coisa em nós que somos unânimes é na indomável vontade de servir o Benfica.
Eu, pelo meu lado, tenho servido o Benfica como posso e sei. Estive vários anos, semanalmente, no Programa “N-Jogadas” da actual RTP-N representando orgulhosamente o meu Clube.
Mais tarde, já no Porto Canal, estive vários anos a defender o Benfica com o mesmo fervor no Programa “A Bola é Redonda” primeiro ao lado do Júlio Machado Vaz, depois do Raul Lopes e do António Catarino. Defendi o Benfica publicamente em muitas outras intervenções na televisão e nos jornais. Tento servi-lo agora com a mesma modéstia e igual dedicação no “Novo Benfica”.
Esclareço também que nunca tive nenhuma palavra de estímulo ou, ao contrário, de censura ou repreensão de nenhum responsável do Benfica. Lembro-me que no intervalo do “N Jogadas” o Francisco José Viegas, o António Reis e o Manuel Pinto Coelho, falavam regularmente ao telemóvel com os “seus “aparelhos”, enquanto eu me entretinha a ler as mensagens de muitos portistas que, descobrindo não sei por que artes o meu telemóvel, ameaçavam recorrentemente partir-me a cara ou cada uma das pernas.
Também nunca recebi qualquer convite da Direcção do Benfica. Nem para a magnifica Gala do 105º Aniversário onde, ao que me foi dito, até gente que tinha por minha Amiga se entreteve a dizer publicamente mal dos meus textos e de mim próprio. Ficam a saber, como na “blague” política, que eu sei que elas sabem que eu sei.
Tive, isso sim, na Apresentação do “Novo Benfica” a oportunidade de, a nosso convite, conviver com o Presidente do Benfica e outros membros dos Órgãos Sociais que muito nos honraram com a Sua presença. Mais tarde, no Jantar que fizemos no Estádio da Luz tive nova oportunidade de confraternizar com Luis Filipe Vieira, Rui Costa e outros membros da SAD Benfiquista.
Como referi nos posts que então escrevi (podem ser revisitados), foram grandes noites de “tertúlia benfiquista” onde só temos a agradecer a simpatia e a consideração com que nos trataram, com especial destaque para o Presidente do Benfica.
Tive ainda um convite simpático e recente do Silvio Cervan para escrever um artigo na renovada “Mistica” o que fiz, com modesta capacidade, mas com imenso prazer.
Nada me move de pessoal, portanto, contra o Presidente ou a Direcção do Benfica.
Mas, talvez porque convivi mais com as ameaças dos outros do com o carinho dos meus, habituei-me a ser independente e a pensar pela minha cabeça.
Talvez porque assisto aos jogos do Benfica no meio da bancada e não em Camarotes VIP, habituei-me a olhar para o meu Clube de forma exigente e inconformada.
Talvez porque não sou convidado para Galas e outras efemérides, tenha a distância de quem todos os dias vive a Festa de ser do Benfica.
Como nunca precisei deles (sejam quem forem!) senti sempre o Clube como Meu.
Não sou por isso deste sistema ou de qualquer outro. Sou adepto e sócio do Benfica e essa é a superior condição em que quero morrer.
Claro que se a minha independência em nada me compromete, também em nada me dispensa. E, eu sou daqueles que tem uma paixão consequente pelo Clube. Se entender que um dia posso ser útil ao Clube de uma forma diferente da que tenho tido, lá estarei. Como sempre estive, com cara com nome e com tudo. Assim aconteceu no “N Jogadas” e na “Bola é Redonda”, assim acontece no “Novo Benfica”…
Com a mesma frontalidade e independência e sempre no propósito único de servir o Benfica.
E é essa frontalidade e independência que me levam a achar, sem prejuízo dos protagonistas, que o Benfica precisa ainda de melhorar – digo isto com toda a convicção. Admitindo até, como já fiz muitas vezes, que mudou para melhor nos últimos anos. Mas não tão francamente como devia. Não tão decisivamente como pareceu poder.
E por isso tenho o direito de querer mais para o meu Clube. De não gostar que, nos últimos 20 anos, o Benfica sendo o Maior não seja o Melhor (como é isto possível?).
De me entristecer com o conformismo de muitos que já só aspiram a ser segundos ou terceiros. De não me refugiar no ecletismo que sempre foi do Clube, representado por modalidades amadoras onde também já fomos mais hegemónicos do que hoje somos.
De não me realizar integralmente quando o Benfica faz (mesmo que bem) outras coisas (mesmo que meritórias) que extravasam o objecto do Clube e o seu âmbito eminentemente desportivo.
De não me consolar na luta que temos travado pela ética e pela justiça desportiva (que para mim constituem sempre pressupostos de actuação), se nem aí nos conseguimos impor, se nem aí conseguimos vencer.
De me preocupar que no primeiro semestre desta época o Benfica tenha quase 10 milhões de euros de prejuízo (sete vezes mais do que o Porto e 4 vezes mais do que o Sporting). Numa época em que já quase tudo perdeu, ingloriamente, onde voltamos a ter que nos contentar com menoridades.
De ouvir todos os anos a mesma "lengalenga" do "agora é que vai ser!", com novos ciclos virtuosos e mirabolantes promessas que nunca se concretizam
De ver, enfim, o “Benfica Glorioso” desaparecer progressivamente da memória europeia.
De constatar, tristemente, que o “Benfica Campeão” se vai esvanecendo na lembrança e na esperança das novas gerações.
É só por isso que continuarei a dar o melhor de mim - para poder viver um Benfica melhor.
António de Souza-Cardoso
PS1 Também não fui eu que falei, alguma vez neste Blog, nas eleições do próximo mês de Outubro. Mas, já agora, não acho nada que seja tarde para começarmos a reflectir sobre o assunto. E como todos os assuntos que merecem reflexão no nosso Clube, não acho nada impróprio que delas (reflexões) se escreva e se debata neste Blog. Com a mesma diversidade e frontalidade de sempre. Que, ao contrário do que possa parecer, não tem beliscado a nossa amizade nem diminuído a consideração e a estima que temos uns pelos outros.
PS2:Eu nas novas eleições quero, principalmente, exigência e responsabilidade. Em particular do Presidente, como primeiro de todos. Como líder da equipe que ele próprio escolherá. Julgo até que é esta a altura de Luis Filipe Vieira nos dizer se se vai recandidatar? E com quem? Com que objectivos e garantias? Com que responsabilidade e com que projecto?
PS3: Como me parece a altura de aparecerem outras alternativas e outros projectos, que num Clube grande como o Benfica são sempre possíveis e desejáveis.Passo pois a palavra a quem primeiro falou e a quem (pelo protagonismo que assume) deve primeiro falar das Eleições do Benfica.