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Novo Benfica

Novo Benfica

06
Dez08

Mais que um clube

Pedro Fonseca

Do Barcelona, dizem os catalães, que é “més que un club” – mais que um clube. Bandeira de uma região, a Catalunha, o Barcelona sempre foi uma espécie de braço armado da luta política contra o centralismo de Madrid. Orgulho dos catalães, em oposição ao arqui-rival e inimigo Real Madrid. Um mundo de cultura, de vivências sociais e políticas, separam estes dois emblemas.

 

É certo que o Barça apenas tem 19 títulos de campeão, contra os 31 do Real Madrid, e que só em 1992 conseguiu ser pela primeira vez campeão europeu, depois de ter tido nas suas fileiras jogadores como Puskas, Czibor, Cruyff, Maradona, Lineker, Romário, Krankl. Mas para os catalães é “més que un club”.
Circula uma tese que defende que o Benfica, não fossem os títulos de campeão europeu, em 61 e 62, não fosse Eusébio, não fossem os 31 campeonatos, as taças de Portugal, as inúmeras vitórias europeias, era como o … Leixões.
Sem o menor desrespeito pelo Leixões, antes pelo contrário, clube de grandes tradições , ouso discordar desta tese. E digo ouso porque de uma ousadia se trata, reconheço. Defender que o Benfica não é um clube de futebol, “core business”, como agora se diz, da sua actividade e principal razão da sua existência, é uma grande ousadia. Loucura? Talvez.
Vou tentar explicar porque defendo que o Benfica é “més que un club”. Não são as razões políticas, como as que servem de argamassa emocional no Barcelona, ou religiosas como no Celtic ou Rangers, que o explicam, mas o facto de como nenhum outro clube em Portugal, nem no Mundo, ter sabido ao mesmo tempo conciliar uma ideia do “ser português” com uma vocação universalista.
O Benfica foi, é e será sempre essa síntese, essa ponte, essa expressão identitária. Português, como nenhum outro, porque assumiu desde sempre a sua condição de “clube do povo”, antes, muito antes, das vitórias europeias e de Eusébio, porque não nasceu em berço de ouro, porque foi raio de luz, foi generoso, foi democrático, foi vermelho, foi simples, num Portugal que era sombra, era orgulhosamente só, era ditadura, era negro, era falso. Nunca se deixou “amarrar” nem submeter a nenhum poder, fosse ele político, social ou económico.
Um dia chamaram a esse ideal “mística”, uma palavra sem tradução, como saudade. Cosme Damião, fundador do clube, foi seu atleta, jogador, treinador. Sempre recusou ser presidente ou ter qualquer cargo directivo. A sua filosofia de vida, a sua generosidade, o seu humanismo, a sua alma, formatou o Benfica. É isto a Mística.
José Maria Nicolau, os mais novos não devem sequer saber quem foi, mas o Benfica, de sempre, está inteiro neste nome com três palavras, como Eusébio da Silva Ferreira ou Joaquim Ferreira Bogalho, ou Guilherme Espírito Santo.
Nicolau foi um dos maiores ciclistas portugueses e o maior do seu tempo, na década de 30. Ganhou duas Voltas a Portugal, em 31 e 34, mas pouca gente o sabe e nem sequer é por isso que é um nome imortal para os benfiquistas.
Passa despercebido a muitos, mas o Benfica tem no seu emblema uma roda de uma bicicleta, o primeiro “desporto do povo”. Em cima da bicicleta Nicolau levou a camisola vermelha do Benfica a um país inteiro que o idolatrava nas margens das estradas poeirentas, velhas, esburacadas.
Não foram as vitórias que o colocaram no coração do povo, foi a coragem, a determinação, a generosidade, a alma. A mística. Uma forma muito própria de ser português, mais português com a camisola do Benfica vestida.
Anos mais tarde, na década de 40, Joaquim Ferreira Bogalho, o primeiro “presidente do Estádio”, resolveu aplicar uma pena severa a um jogador. Esse episódio fez história e ainda hoje é recordado.
Félix era considerado o melhor defesa-central da Europa e, para muitos, o melhor defesa-central de sempre do Benfica. Depois de uma derrota em Setúbal, chegou aos ouvidos de Joaquim Ferreira Bogalho que Félix, irritado, tinha pisado a camisola do Benfica após a ter atirado para o chão no balneário. Bogalho expulsou Félix do Benfica. Quantas vitórias, quantos campeonatos não ficaram por ganhar em virtude desta decisão? Mas quem a ousa contestar?
Principal impulsionador da construção do Estádio da Luz, na década de 50, Joaquim Ferreira Bogalho foi o líder de uma gesta histórica. Sem dinheiro, sem infraestruturas, o Benfica apelou à generosidade dos seus milhares de sócios e adeptos para construir o Estádio da Luz. A “campanha do cimento” ficou histórica e uma das marcas de água do “ser benfiquista”. Foi com o suor, o sangue e as lágrimas dos benfiquistas que se construiu o Estádio da Luz. É isto a mística. “E pluribus unum” – Todos por Um.
E claro, houve Eusébio. Mas, note-se, muito antes já havia Benfica, muito depois continuou a haver Benfica. Não é tanto pelas vitórias que o menino negro, pobre, simples e tímido, de Mafalala, que um dia chegou a Lisboa para representar o Benfica, se tornou um símbolo, um ícone, uma estátua.
Foi porque Eusébio, como Coluna, empunhou o testemunho transmitido por Guilherme Espírito Santo, super-atleta da década de 30: a multiculturalidade, a multietnicidade, a união entre povos e raças. O Benfica era isso, é isso, será sempre isso.
Quando a escravatura ainda era uma forte realidade no maior país do Mundo, os Estados Unidos da América, o Benfica tinha como seus porta-estandartes 3 negros: Guilherme Espírito Santo, Eusébio da Silva Ferreira, Mário Coluna.
Quando o Estado Novo reagia em força às alterações à ordem estabelecida nas antigas colónias, o Benfica e os benfiquistas reviam-se na classe, no humanismo, na simpatia, de um angolano, Guilherme Espírito Santo, e de um moçambicano, Eusébio da Silva Ferreira, e colocava a braçadeira de capitão e a autoridade de líder no braço e na personalidade de um outro moçambicano, Mário Coluna – e foram eles que levaram o nome do Benfica por esse Mundo fora.
Em quase 105 anos de existência, há altos e baixos, há sombras e luzes, há festa e melancolia. A quem gosta de aferir instituições pelo currículo das vitórias, não basta responder  que o Manchester United esteve 25 anos sem ser campeão, o Real Madrid 17 e o AC Milan 18, porque nenhum destes clubes pode almejar ser o Benfica e tudo o que o Benfica representa.
Nem o Santos de Pélé, nem o Vasco da Gama, dos portugueses do Rio, podem algum dia almejar atingir essa dimensão. Porque a todos faltou um desígnio imaterial no dia da fundação. Porque todos são meros “clubes de futebol”. E os que dizem que não são só isso, como o Barcelona, têm uma agenda política muito própria e muito sua.
O Benfica está muito acima. O Benfica não é um clube de futebol porque é a emanação real e transcendental de uma ideia, de um sentimento, de uma alma: português na origem, universalista nos princípios, humanista na ética.
Quando uma criança de rua passeia descalça na Costa do Sol, em Maputo, só com a camisola do Benfica vestida; quando um restaurante na Cidade da Praia, em Cabo Verde, emoldura as suas paredes com fotos das equipas do Benfica; quando um moleque do Rio se lembra do histórico Santos-Benfica (5-3), em Paris, porque o pai lhe falou de um negrinho com 19 anos chamado Eusébio, igual a Pélé e Didi; quando em Luanda ou no Huambo se paravam os tiros para ouvir os relatos do Benfica; quando, às terças, uma fila imensa de gente espera a sua vez à porta da biblioteca municipal de Maputo para ler “A Bola” e a crónica do jogo do Benfica; quando em Newark o Dia de Portugal é festejado com bandeiras do Benfica e de Portugal; quando mais de 40 mil portugueses enchem o Stade de France, em Paris, para apoiarem o Benfica, naquela que foi a maior presença de sempre de adeptos de uma equipa visitante num jogo das competições europeias; quando, em Genebra, um emigrante português celebra a vitória da selecção circulando pelas artérias da cidade com bandeiras do Benfica a esvoaçar nas janelas  – de que é que estamos a falar?
De algo, porventura, sei lá, tão ou mais forte que a bandeira e o hino. Algo que não acabou, nem morreu, nem foi esquecido, com a descolonização e a independência das ex-colónias. Algo que os emigrantes levam consigo para o Brasil, para França, para a Suiça, para os Estados Unidos. Esse nome, Benfica.
ps1Por razões pessoais, este texto é publicado hoje e não na segunda-feira, o meu dia normal de postagem, tendo trocado com o António Souza-Cardozo, em cujas mãos ficará melhor a análise da vitória do Benfica no Funchal, domingo à noite, e consequente ascensão ao 1º lugar. Acredito na vitória, acredito no 1º lugar, acredito que vamos ser campeões. Porque o Benfica vive das vitórias e para as vitórias. Campeão, sempre campeão.
05
Dez08

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA - RESPOSTAS

Bruno Carvalho

 

Em primeiro lugar, gostava de saudar os meus companheiros de blog pelas suas reacções ao meu post “Ensaio sobre a Cegueira”, que vêm demonstrar a vitalidade deste nosso blog.
 
É para mim claro que o “Novo Benfica” tornou-se um espaço de debate de ideias em torno do Benfica, que é aquilo que eu queria quando decidi, com o António Souza-Cardoso, lançar este projecto.
 
Não posso deixar de agradecer ao Paulo Ferreira o facto de ter transferido o seu habitual post das sextas-feiras para domingo para que eu pudesse responder, em tempo útil, aos reparos que me foram feitos.
 
Feita esta pequena introdução, gostava de deixar as seguintes notas:
 
1.
 
Quanto ao que escreveu Pedro Ribeiro (P) no seu texto “História do Cerco de Lisboa” tenho a dizer o seguinte:
 
Eu também acho que o Benfica tem que reencontrar a sua identidade e formular um modelo ganhador próprio que não será, seguramente, igual ao do FC Porto.
 
No entanto, alerto para o facto de não ser eu que estou obcecado com o FC Porto, mas sim a actual Administração do Benfica, que gasta demasiado tempo a falar do Apito Dourado ou a fazer más figuras na UEFA (na companhia do Guimarães) a tentar ganhar na secretaria o que perdeu em campo, num ano em que ficou a 23 pontos do Porto.
 
Em vez de estarem tão preocupados com o Porto deveriam estar mais concentrados nos problemas do próprio Benfica como, por exemplo, a entrevista dada por David Suazo à imprensa do seu país.
 
Nessa entrevista, David Suazo, o jogador mais bem pago a jogar em Portugal disse o seguinte sobre o Benfica após o empate com o Setúbal: “devemos trabalhar com mais vontade nos treinos”.
 
É disto que eu falo… Isto é verdade? Seria isto possível no Porto?
 
E já agora, em que posição deixou Suazo o seu treinador Quique Flores e também Rui Costa que assiste a todos os treinos do Benfica? Será que eles não vêem o mesmo que Suazo?
 
E isto tem alguma relação com a corrupção no futebol português?
 
Finalmente, creio firmemente que o Benfica tem que olhar para modelos ganhadores e perceber em que pode melhorar (não imitar) de forma a construir o seu próprio caminho.
 
Por exemplo:
 
- o Benfica deve olhar para clubes como o Manchester United ou o Real Madrid para ver o que eles fazem ao nível do marketing, uma vez que são clubes campeões de receitas neste domínio
 
- o Benfica deve olhar para o Sporting e para o Ajax para perceber o que de bem fazem estes clubes no domínio da formação de jogadores
 
- o Benfica, não perde nada por olhar para o Porto, para perceber quais são as verdadeiras razões do sucesso do Porto.
 
 
2.
 
Quanto ao comentário que o Pedro Fonseca (O Inferno da Luz) deixou ao meu post, penso que é melhor transcrevê-lo primeiro.
 
Pedro Fonseca escreveu:
 
Facto 1 - O guarda Abel nunca existiu;
Facto 2 - O apito dourado nunca existiu;
Facto 3 - O Carlos Calheiros nunca existiu;
Facto 4 - O Adriano Pinto nunca foi presidente da AF do porto;
Facto 5 - O Dias da Cunha nunca disse que os rostos do sistema eram o PC e o Valentim;
Facto 6 - O Platini nunca disse que o FCP era um clube corrupto;
Facto 7 - O FCP nunca foi acusado de corrupção desportiva;
Facto 8 - O António Garrido nunca existiu;
Facto 9 - O Lourenço Pinto nunca existiu e não é, agora, presidente da AF porto;
Facto 10 - O Guímaro nunca existiu;
Facto 11 - O Silvano nunca existiu;
Facto 12 - Os jogadores do Benfica nunca se equiparam nos corredores de nenhum estádio;
Facto 13 - Nunca nenhum clube colocou o balneário onde se iam equipar os jogadores do Benfica em estado impróprio para utilizar;
Facto 14 - Nunca nenhum dirigente do Benfica abandonou um estádio de futebol escondido numa ambulância;
Facto 15 - Nunca nenhum ex-árbitro inglês escreveu qualquer livro a denunciar as "recepções" que o FCP fazia aos árbitros estrangeiros nos jogos internacionais;
etc., etc., etc...

Relativamente a estes factos apontados pelo meu amigo Pedro Fonseca, gostava de esclarecer de uma vez por todas que não tento branquear as situações de corrupção que se têm vivido no futebol português. Uma leitura atenta do meu post “O Porto, o FC Porto e Pinto da Costa” deixa isso bem claro para quem saiba ler português.
 
É que para muitos essa dita corrupção explica tudo. Para mim não só não explica tudo, como não explica quase nada.
 
Efectivamente, eu acho que há outras explicações para o facto de o Benfica não ganhar que vão muito para além dessa cartilha que nos é impingida diariamente e que, repito, é muito conveniente aos dirigentes que se têm revelado incapazes de combater a supremacia do Porto.
 
Daqui pergunto a todos que relação têm as coisas que o Pedro Fonseca enumera com o facto de:
 
- o Benfica não ir a uma final europeia há 18 anos
 
- o Benfica ter perdido em Vigo 7-0
 
- os benfiquistas terem elegido Vale e Azevedo para Presidente quando nessas eleições tinham um candidato da categoria de Luís Tadeu. Será porque Luís Tadeu não seria um “Presidente do Povo”?
 
- o Benfica ter ficado de fora das competições europeias 2 anos seguidos, quando tinha até então participado sempre
 
- o Benfica ter ficado em 6º lugar no campeonato de 2000/01
 
- o Benfica ter sido deixado de fora de uma organização da importância do G14
 
- o Benfica deixar sair Mourinho, Deco e Maniche para o Porto
 
- o Benfica não conseguir transferir os seus jogadores para os grandes clubes da Europa enquanto outros o fazem sistematicamente
 
- o Benfica ser eliminado das competições europeias por equipas sem categoria como o Getafe, Español ou Celtic e de estar, este ano, em último num grupo cheio de equipas vulgares
 
- o Benfica não ter uma política de manutenção de treinadores que foram campeões, como aconteceu nos casos de Toni, Trapattoni, Beto Aranha ou Aleksander Donner
 
- o Benfica ter despedido o seu treinador ao fim da primeira jornada por ter empatado um jogo fora, sendo que era o mesmo treinador da época anterior
 
- O Presidente do Benfica anunciar que tem a melhor equipa dos últimos 10 anos e depois ficar em 4º lugar
 
- o Benfica contratar camiões de jogadores de péssima qualidade
 
- o Benfica, desde que há Liga dos Campeões, ter passado a fase de grupos por uma única vez
 
- o Benfica não conseguir formar nenhum jogador de indiscutível qualidade desde Rui Costa
 
Pergunto, a todos, e a ti Pedro em especial, o que é que isto tudo tem a ver com o Guarda Abel, com o Carlos Calheiros, com o Guímaro ou com o estado do balneário em que o Benfica se equipa?
 
 
3.
 
Uma nota final para os comentários que o Júlio Machado Vaz colocou no meu post.
 
Devo dizer publicamente que acho sábias as suas palavras. Também acho que não se devem dividir os benfiquistas em “bons” e “maus”. Isso, de facto, não aproveita a ninguém.
 
Dito isto, confesso que estou um pouco cansado que ponham em causa o meu benfiquismo apenas porque expresso as minhas opiniões.
 
Mas esse será o tema do meu próximo post.
 
 
Um abraço para todos e em especial para o Pedro Ribeiro, para o Pedro Fonseca e para o Júlio Machado Vaz.
 
Bruno Carvalho
 
 
05
Dez08

História do Cerco de Lisboa. (Só para seguir o universo Saramago)

PR

O que eu não entendo é como é que ainda há quem pense que a evolução do Benfica tem de estar ligada à história recente e ao modus operandi de um outro clube qualquer.

Os problemas do Benfica, desportivos, financeiros e outros, devem, a meu ver, ser resolvidos com base numa matriz própria, autónoma e independente de exemplos externos.

A fixação pelo FC Porto nunca trouxe nada de bom ao Benfica. O Benfica tem de saber pensar por si, fazendo uso de critérios claros de competência, ambição, excelência, responsabilidade. E extremo cuidado na forma como expõe fragilidades em público. 

Agir, na Luz, tendo como...norte, o Porto é, a meu ver, um erro. Por isso, qualquer análise, mais para mais feita em público, dos problemas do Benfica, que parta,  para a sua resolução, de uma comparação com o Porto ou qualquer outro clube, está, a meu ver, condicionada por esse pecado capital, à partida.

Percebo que vem viva cercado de portismo, acabe por acusar o toque. O aceno constante das conquistas recentes do FCP pode, talvez, levar a um desespero de comparação, mas não caiamos nessa armadilha! Aliás, eu poderia estar aqui a desfiar todo um rolo de argumentos que mostram que o FCP está também cheio de maus exemplos, que eu não gostaria de ver o Benfica trilhar, nomeadamente a nível da gestão financeira, para começar. Mas não vou por aí. Saibamos procurar dentro de nós, as respostas para as nossas falhas e não noutros lados. Eu não sou pelo pensamento único, e defendo um clube plural, aberto à discussão interna de tudo. Isso não está em causa.

Mas o meu ponto é este: analisar o Benfica, e tentar, modestamente, contribuir para a resolução dos seus problemas, não passa por trazer outro clube à conversa (seja ele qual for). Isso diminui o Benfica. Torna-o mais vulnerável e dá trunfos a quem é inimigo do nosso clube. Eu, como benfiquista, não sinto nenhuma inveja, nem qualquer complexo, em relação a qualquer outro clube. Conheço a nossa história, de que me orgulho, e reconheço-me na nossa idiossincrasia.  Que não tem, não pode ter, comparação.

04
Dez08

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Bruno Carvalho

 

 
Depois do meu último post fiquei elucidado quanto ao pensamento, ou falta dele, de muitos dos meus consócios.
 
Felizmente, tive a oportunidade de constatar que não estou sozinho e que ainda há muitos que conseguem ver para além da propaganda que nos é impingida.
 
É que, há vários anos, os sucessivos insucessos do Benfica têm sempre a mesma explicação: o Benfica não ganha porque há corrupção que beneficia o FC Porto. A propaganda vai mais longe e diz que os sucessos do Porto são todos fruto dessa corrupção. E quem se atrever a questionar isto é imediatamente acusado de anti-benfiquista.
 
Confesso que é quase impossível contrariar esta ideia tal o número de vezes que ela foi difundida e por ser tão útil a quem vem sucessivamente liderando os destinos do Benfica.
 
De facto, os “Verdadeiros Benfiquistas” estão convictos desta tese e não se preocupam em questionar os factos à sua volta.
 
Vamos, então, olhar para os factos e para as explicações dos “Verdadeiros Benfiquistas”:
 
- FACTO: nos últimos 25 anos, repito, 25 anos, o Porto ganhou 16 campeonatos, o Benfica 6, o Sporting 2, o Boavista 1.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: estes números provam que o Porto é um clube corrupto e só ganhou, durante 25 anos, por causa da corrupção. E diga-se que 25 anos é um período curto que ainda não permitiu construir uma equipa capaz de vencer o Porto.
 
- FACTO: o Porto, nos últimos 25 anos, foi 2 vezes Campeão Europeu.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o Porto foi Campeão Europeu porque é um clube corrupto e as suas vitórias não interessam porque é um clube regional.
 
- FACTO: o Porto, nos últimos 25 anos, ganhou por 2 vezes a Taça Intercontinental.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o Porto ganhou essas Taças, que na nossa opinião não valem nada, porque é um clube corrupto e as suas vitórias não interessam porque é um clube regional.
 
- FACTO: o Porto, nos últimos 25 anos, ganhou uma Taça UEFA e uma Supertaça Europeia.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: a Taça UEFA é um troféu fácil de ganhar. Este ano é que tivemos azar porque apanhamos super equipas como o Galatasaray, o Olympiakos, o Herta de Berlim e o Metalist Kharkov. Tudo equipas de topo. O Porto só ganhou a Taça UEFA e a Supertaça Europeia porque é um clube corrupto e as suas vitórias não interessam porque é um clube regional.
 
- FACTO: o Benfica deixa sair Mourinho, Deco e Maniche que vão todos parar ao Porto e que estão na base do Porto ter ganho uma Liga dos Campeões e uma Taça UEFA.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o Porto foi Campeão Europeu e ganhou a Taça UEFA porque é um clube corrupto e as suas vitórias não interessam porque é um clube regional.
 
- FACTO: a Liga dos Campeões vai na sua 17ª edição, podendo ser contabilizadas 14 participações do FC Porto e 14 do Manchester United, que são os 2 clubes com mais presenças, enquanto o Benfica e o Sporting contam com 5 participações cada um e o Boavista duas.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o Porto na Europa não é nada porque é um clube regional e corrupto.
 
- FACTO: o Porto, das 14 vezes que disputou a Liga dos Campeões, passou a fase de grupos 10 vezes, enquanto o Benfica o fez por uma única vez, sendo que o Porto qualificou-se este ano para os oitavos-de-final pela 3ª vez consecutiva, com um treinador que não serviu ao Benfica, tendo sido despedido da Luz à 11ª jornada na época 2002/03.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o Porto na Europa não é nada porque é um clube regional e quando ganha é porque é um clube corrupto.
 
- FACTO: o Benfica tem sido eliminado das competições europeias nos últimos por equipas vulgares como o Getafe, o Español ou o Celtic.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o Benfica está a construir uma grande equipa (há sensivelmente 25 anos) e o Porto só ganha porque é um clube corrupto e também não interessa quando ganha porque é um clube regional.
 
- FACTO: o Porto foi convidado a integrar o G14, organização onde estão os clubes mais poderosos e influentes do futebol europeu.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o Benfica não está porque não se mistura com corruptos, nem com clubes regionais.
 
- FACTO: o Porto tem vindo a vender jogadores aos grandes da Europa, como são os casos de Deco ao Barcelona, Paulo Ferreira ao Chelsea, Ricardo Carvalho ao Chelsea, Pepe ao Real Madrid, Anderson ao Manchester United, Bosingwa ao Chelsea e Quaresma ao Inter de Milão. O Benfica vendeu Simão Sabrosa ao Atlético de Madrid!
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o Porto é um clube corrupto e regional e não tem grandes jogadores. Os clubes europeus não sabem o que andam a fazer.
 
- FACTO: o Sporting tem a melhor formação de jogadores em Portugal, tendo nos últimos anos saído das suas equipas jovens jogadores como Cristiano Ronaldo, Nani, Quaresma ou Simão Sabrosa. O último grande jogador que o Benfica formou foi Rui Costa, que até já se retirou, tendo havido um completo deserto desde aí.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o presidente do Sporting senta-se ao lado de Pinto da Costa nos jogos entre as duas equipas, logo o Sporting é igual ao Porto, que é um clube de corruptos e regional. Deste modo, o Sporting também deve ser corrupto e nem chega a ser regional, mas sim um clube local, de um bairro de Lisboa.
 
- FACTO: os Benfiquistas elegeram presidentes como Manuel Damásio ou Vale e Azevedo que quase destruíram o clube.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: provavelmente os “Verdadeiros Benfiquistas” votaram neles. Mas no fundo, o que era necessário era encontrar um Pinto da Costa vermelho, mas menos regional e provinciano. De qualquer forma um “Verdadeiro Benfiquista” tem que estar calado mesmo que discorde do presidente do seu clube. Discordar é para traidores e infiltrados.
 
- FACTO: o Benfica foi incapaz de manter o treinador da equipa principal de futebol que ganhou o penúltimo título em 1993, Toni, para substituí-lo por Artur Jorge e não quis ou não soube manter Trapattoni que ganhou, em 2004, o último campeonato do Benfica. Mas o Benfica também despediu Beto Aranha depois de ter ganho o ano passado o campeonato de Futsal e Aleksander Donner depois de este ter ganho o campeonato de andebol após um longo jejum de 18 anos.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: peço desculpa, mas não me ocorre nenhuma coisa que diria um “Verdadeiro Benfiquista”, mas provavelmente esses treinadores deveriam ser infiltrados e estariam seguramente ao serviço do Porto que é, como todo sabemos, um clube corrupto e, sem dúvida, regional.
 
- FACTO: o Benfica, com José Veiga à frente do futebol, foi campeão nacional após um interregno de 11 anos.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o Veiga era portista e aprendeu tudo com Pinto da Costa antes de se zangarem, logo José Veiga trouxe para o Benfica os “truques” do Porto. Pergunta: será que isso significa que o nosso último título também foi ganho através da mesma corrupção com que o Porto ganhou tanta coisa?
 
- FACTO: o Benfica despediu Fernando Santos que já vinha da época anterior à primeira jornada por ter empatado fora com o Leixões.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o Porto é um clube corrupto e regional e o Fernando Santos até era o Engenheiro do Penta, sendo que esses 5 campeonatos seguidos que o Porto ganhou devem-se totalmente à corrupção.
 
- FACTO: o Benfica contrata camiões de jogadores da qualidade de Edcarlos, Luís Filipe, Andrés Diaz, Stretenovic, Marcel, Manduca, Marco Ferreira, etc, etc, etc…
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: o Porto também comprou muitos jogadores maus, e todos os títulos que o Porto ganhou devem-se todos à corrupção. O facto do Porto vender sistematicamente jogadores a grandes clubes da Europa tem uma explicação simples, é que esses clubes gostam de comprar jogadores a clubes regionais, é como quem compra artesanato.
 
- FACTO: Pablo Aimar diz que o melhor jogador da Liga Portuguesa é o capitão do FC Porto, Lucho González.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: fez muito bem, porque o rapaz tem que dizer a verdade, sendo que o Director de Comunicação do Benfica está a fazer um trabalho óptimo na pacificação do futebol português elogiando o capitão de equipa do maior adversário do Benfica. É muito bonito este desportivismo! No Porto nunca fizeram semelhante coisa porque são corruptos e logo não dizem a verdade.
 
- FACTO: o Benfica, nos últimos anos, tem vindo a registar uma sucessão de recordes negativos: a maior derrota de sempre em jogos europeus (7-0 em Vigo na época de 1999/2000), a pior classificação de sempre (6º lugar na época 2000/01), ficou de fora da Europa pela primeira vez na sua história em 2001/02 e repetiu o desastre na época seguinte (2002/03), ficou sem ganhar um campeonato durante 11 anos e nos últimos 14 ganhou apenas um, já não vai a uma final Europeia há 18 anos. Há muitos mais recordes negativos, mas eu não quero ser fastidioso.
- EXPLICAÇÃO DOS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS”: francamente não sei bem qual será, mas seguramente é porque o Porto é um clube corrupto e todos estes desastres devem-se a lamentáveis erros de arbitragens.
 
- EU DIGO: Gostava que todos os êxitos do Porto tivessem sido do Benfica. Gostava de ter visto o meu Benfica Campeão Europeu e do Mundo. Gostava de ter festejado com todos os Benfiquistas as nossas conquistas nas ruas. Gostava de ter visto o orgulho e esplendor benfiquista de novo bem vincados por esse mundo fora. Mas o que eu vi foi o Porto ganhar.
- OS “VERDADEIROS BENFIQUISTAS” RESPONDEM: o Bruno Carvalho está a soldo do Pinto da Costa que tem a mulher dele a trabalhar lá no canal e se, por acaso, se assume benfiquista é porque é um infiltrado.
 
Acho que já chega!
 
E já agora, “Verdadeiros Benfiquistas”, tudo o que eu escrevi que sirva de alerta e que nos faça pensar a todos!
 
Até quando vamos acreditar nestas desculpas básicas que apenas servem para esconder tanta incompetência?
 
Quando é que conseguiremos olhar para além deste grande embuste, destas desculpas esfarrapadas, e vamos construir um Benfica de novo glorioso e que respeite a sua própria história?
 
Eu, como traidor e mau benfiquista, sinto-me inconformado com esta situação, com esta apatia e com esta cegueira. E o pior cego é aquele que não quer ver!
 
Sei bem que não estou sozinho nesta minha revolta!
 
Por muito que me insultem, vou continuar a escrever a minha opinião e quem não quiser que não leia, que não venha a este blog, porque como já disse, e repito, o sucesso deste blog não se mede pelo número de visitantes, mas pela qualidade do que aqui se discute e pelo nível de quem participa.
 
Para aqueles que não gostam do que eu escrevo, não faltam blogs de “Verdadeiros Benfiquistas” que estão muito satisfeitos com os inúmeros sucessos do Benfica e onde vão poder ler a cartilha habitual.
 
Não contem comigo para isso.
 
Bruno Carvalho
 
 
PS 1: Uma pequena nota sobre as contas do Benfica: a SAD do Benfica apresentou um prejuízo de 2 milhões de euros no 1º trimestre de 2008/09, enquanto tinha registado um lucro de 9 milhões de euros no mesmo período da época anterior. Mais grave, ainda, é o facto dos Resultados Operacionais terem igualmente passado de positivos para negativos, atingindo o montante de 1.1 milhões de euros negativos quando o ano passado eram positivos em 12 milhões de euros. O crescimento do passivo em 19% também não é uma boa notícia. Como eu já vinha alertando, as contas do Benfica talvez não estivessem tão bem como pareciam e já havia indícios claros que isto pudesse vir a acontecer. A continuarem assim as coisas, será normal que comecemos a ouvir falar em mais endividamento do Benfica ou na venda de jogadores. Fica feito o aviso. O tempo encarregar-se-á de mostrar se tenho ou não razão.
 
PS 2: Chamo a atenção que é preciso ter muito cuidado com os comentários destas novas transmissões dos jogos do Benfica. É que os comentadores da Benfica TV e da ZON podem induzir ainda mais à cegueira que se abateu sobre muitos benfiquistas. No jogo da Grécia, o comentador da ZON conseguiu ver uma boa exibição do Benfica. É que se a exibição foi boa e perdemos por 5-1, se calhava ter sido má, não quero imaginar o resultado final. A provar o despropósito dos comentários estão os pedidos de desculpa de Quique e de Rui Costa pela exibição da equipa. Mas os “Verdadeiros Benfiquistas” devem adorar estes comentários… E já agora, Quique e Rui Costa não precisam, nem devem, pedir desculpas, pois já estamos fartos de ver todos os anos jogadores e treinadores do Benfica a pedirem perdão aos adeptos. Façam uma coisa: ganhem em vez de pedir desculpas!
 
PS 3: Peço desculpa a José Saramago por lhe ter usurpado o nome do seu  livro para usar como título deste post. Já agora recomendo a todos irem ver esse maravilhoso filme de Fernando Meirelles que adapta magistralmente para cinema o livro “Ensaio Sobre a Cegueira” de Saramago. É por dizer coisas como estas que eu sou considerado, e com muita razão, um traidor e infiltrado pelos “Verdadeiros Benfiquistas”. Toda a gente sabe que os “Verdadeiros Benfiquistas” apenas vêem (pelo menos uma vez por dia) essa obra-prima do cinema intitulada “Corrupção”, baseada noutra obra de enorme qualidade, o livro “Eu Carolina”. É claro que os “Verdadeiros Benfiquistas” já não se lembram dos tempos em que a Senhora D. Carolina insultava Luís Filipe Vieira, em pleno Estádio da Luz, sentada ao lado do líder dos Super Dragões.
 
03
Dez08

De como vamos ter muito que sofrer.

PR

Quique Flores tem sido de uma serena sabedoria, na forma como fala da época e da equipa, e acho que deve ser escutado com a devida atenção. A ideia de que a equipa está ainda longe do que se pretende foi defendida em plena euforia, após a vitória em Guimarães. Não foi por acaso, o homem sabia o que dizia.

E a ideia da semana passada, de que os adeptos serão indispensáveis para conseguirmos ganhar alguma coisa tem igualmente mérito, e mostra que Quique percebe as insuficiências da equipa, mas também a força que o benfiquismo tem e de como essa militância pode ajudar ao crescimento de alguns jogadores ainda pouco maduros para conseguirem carregar a equipa. A equipa precisa que os adeptos não a abandonem, basicamente.

Acho que temos um bom plantel, globalmente superior ao dos nossos rivais, mas o meio campo precisa de uma cultura táctica e uma classe que nem Yebda, nem Bynia demonstram ter, apesar de serem jogadores interessantes para se imporem gradualmente no futuro (Katsouranis tem essa cultura táctica, creio), e numa equipa em que os alas (Di Maria, Reyes, Urreta, Balboa) defendem mal, à excepção de Ruben Amorim, a defesa fica muito exposta, a equipa começa a defender muito atrás, não mostra maturidade para saber gerir a posse de bola. Isto é gritante quando temos de gerir uma vantagem no marcador. E perdemos dois pontos em Matosinhos com o Leixões, e agora mais dois com o Setúbal nos últimos minutos. Com esses 4 pontos a mais seríamos líderes. E é nestes jogos que se ganham, e perdem, campeonatos.

E depois há a defesa: precisávamos do melhor Leo, e de um central experiente para ajudar ao crescimento de Sidnei e David Luiz. Esse central, no nosso plantel, é, obviamente,Luisão. Ele não é brilhante, quer dizer, não é nenhum prodígio, mas é experiente, sabe o que é o Benfica e é, nesta equipa, indispensável. Precisávamos também de um lateral direito com uma classe que Maxi nunca terá (apesar de ser muito trabalhador e de ter uma ética de entrega ao jogo e aos interesses da equipa que é um exemplo). Na baliza, eu também sempre gostei mais de Moreira do que Quim, mas acho que mudar de guarda-redes não vai resolver, só por si, os problemas desta defesa.

É que, além do que foi dito, o nosso meio campo não tem ajudado nada, muito pelo contrário.

A agressividade junto dos condutores da bola das equipas adversárias é muitas vezes inexistente, e a busca dessa posse é feita muitas vezes sem método, só com base na vontade e no instinto. Os desequilíbrios do nosso jogo defensivo são flagrantes. As perdas de bola são assustadoras e sistemáticas. Ninguém parece parar para pensar!

No ataque estão as nossas maiores armas, mas com o Pablo Aimar a jogar um ou dois jogos e a parar três é difícil ter alguém que pense o jogo atacante da equipa (Um ataque com Cardozo, Suazo, Nuno Gomes...merecia um Rui Costa a distribuir jogo...)

Reyes é um artista, mas com tendência para ser egoísta e não pensar tanto na equipa; sobretudo quando ela não está a ganhar. Carlos Martins estabilizou num nível sofrível. 

Pergunto-me se não seria melhor, nesta altura, colocar o Ruben Amorim ao meio, ao lado de Katsouranis...No domingo passado lembrei-me do Petit. Teria sido importante tê-lo em campo naquele jogo.

Quando nos falta a maturidade de Luisão e Nuno Gomes, a equipa perde vozes de comando que podiam ajudar a estabilizar o conjunto. Falta alguém que saiba pensar o jogo a cada momento e equilibrar a equipa quando ela começa a entrar em stress.

A fraqueza do Benfica passa muito pela forma como a equipa não sabe lidar com a desvantagem no marcador, mas julgo que isso tem muito a ver com uma lógica de muitas épocas seguidas de derrotas. É o tal caminho que leva tempo a percorrer, uma matriz que leva tempo a modificar. Sabemos que pedir tempo, no futebol, é pedir o impossível, e o dilema do Benfica parece ser este: há matéria prima (jogadores, treinador, direcção desportiva), mas era preciso experiência em campo para que o processo de crescimento da equipa fosse sereno, ganhando jogos sucessivos e não abanando com jogos como o da Grécia e o de Domingo passado. E quando a equipa fica, de uma vez, sem Nuno Gomes, Aimar, Luisão...é pedir muito a Yebda, Bynia, Miguel Vitor, Sidnei, Jorge Ribeiro, Urreta que, de repente, sejam os pilares de que a equipa precisa.

Agora não podemos deitar a toalha ao chão. Ninguém ganha, ou perde, campeonatos em Dezembro. Há que ser humilde, dar a volta ás insuficiências com treino de cultura táctica, jogar sempre com grande concentração e acreditar que há uma estrutura global atrás da equipa que acredita nela. E essa estrutura incluí, tem de incluír, cada um de nós, a cada momento.

O jogo do próximo fim de semana é absolutamente fulcral para recuperar a confiança da equipa. Ganhar na Madeira será o tónico de que a equipa precisa. É um jogo difícil, mas nós somos o Benfica, e com trabalho e humildade ganharemos. Mas se não ganharmos...nada de pânico. A procissão ainda nem sequer vai a meio e esta equipa pode dar-nos ainda muitas alegrias. Mas, como nós, na bancada, vai ter de sofrer. Sofreremos juntos, unidos na crença de que seremos campeões.

 

 

02
Dez08

Ainda não foi desta ...

Miguel Álvares Ribeiro

 

 
Apesar das sugestões muito válidas que recebi (e que não ficaram esquecidas) para falar de outros temas e outras modalidades, é impossível não falar hoje do jogo de ontem, e da gorada possibilidade de chegarmos ao primeiro lugar.
O filme do jogo já foi feito, com toda a oportunidade, pelo Júlio Machado Vaz, pelo que vou apenas fazer uma pergunta: porque é que o Benfica não entra para o jogo como entrou na 2ª parte?
Se o Benfica tem entrado com a disposição que mostrou no início da 2ª parte, arrumava o jogo nos primeiros 15 minutos e, depois sim, podia gerir o jogo com alguma tranquilidade e dar algum descanso aos adeptos.
Mesmo descontando o golo roubado (sim, que o árbitro mandou o jogo seguir e só quando viu que a jogada se podia tornar verdadeiramente perigosa é que a interrompeu) e o azar daquele golo esquisito nos descontos, não havia qualquer necessidade de nos fazer a todos passar de novo por todo aquele sufoco e sofrer aquele desgosto no final do jogo.
O Benfica tem que entrar para os jogos, sobretudo quando joga em casa e contra equipas mais fracas, com a clara determinação de resolver rapidamente os jogos, assumindo a sua superioridade e demonstrando-a em campo.
Se são capazes de jogar como jogaram no início da 2ª parte, porque é que não o fazem logo de início? Porquê estar à espera de estar em desvantagem no marcador para mostrar o que valem quando jogam a sério?
Já afirmei aqui que gosto muito da dupla Sidnei-David Luiz, que penso ser a que vai garantir o futuro no Benfica, mas os últimos jogos mostraram que neste momento Luisão é imprescindível no centro da defesa.
Apesar de tudo, acho que também não é caso para desmoralizar e começar a brindar jogadores e técnicos com críticas injustas, como já tenho visto. O Quim foi infeliz ontem nos dois golos, mas não deixou por isso de ser um excelente guarda-redes.
Finalmente, mais uma vez uma palavra de elogio para a postura profissional, elegante e didáctica de Quique que, apesar de instado pelo entrevistador, se recusou diplomaticamente a comentar o (péssimo) trabalho do árbitro.
Ainda não foi desta ... mas vamos lá chegar!
 
01
Dez08

And now for something completely different:).

Júlio Machado Vaz

A célebre frase dos inolvidáveis Monty Python veio-me hoje à memória. Porque:

 

1 - Contra nós toda a gente troca a bola "na boa", pressing nem vê-lo.

2 - A transição defesa-ataque fluida não existe.

3 - Jorge Ribeiro defendeu "à grega".

4 - Entre os dois médios defensivos centrais e os dois avançados estende-se um monte alentejano.

5 - Suazo e Cardozo cumprimentam-se em recepções oficiais, mas não se falam dentro do campo.

6 - O hondurenho tem tanto de bom jogador como de vedeta.

7 - A sua altercação com Yebda permitiu a Katsouranis pensar para os seus botões: "se estão à espera que não vos ralhe por causa daquela coisinha com o Luisão, estais muito enganados".

8 - A equipa de arbitragem conseguiu interromper uma jogada de golo iminente - acho que ouvi o apito... - e não mostrar um segundo amarelo óbvio em menos de dez segundos.

9 - Contra nós, não existe nenhuma equipa em Portugal que não aspire, com toda a legitimidade, a marcar o golo do empate nos descontos.

10 - Se o Benfica já treme nesses momentos, com a liderança ali tão perto - como diria o Sérgio Godinho:) - era que nem ginjas, os minutos finais seriam impróprios para cardíacos.

 

 

Mas... SO WHAT??????????? É o Benfica, carago:). E por isso assisti a mais um filme de terror com taquicardia, taquipneia, palavrões e suores frios, mas surpreso, não! Até que..., fui castigado pela minha arrogância:(.

 

Em verdade vos digo - aquele golo foi DIFERENTE!!!!!!!!!!:))))))))).

 

Boa noite, gente. Agradeçam a Deus ou à Sorte não estarem num Serviço de Urgência com um treco ou numa Esquadra de Polícia por atentado à ordem pública. E aprendam a lição como eu a aprendi - quando pensamos ter visto de tudo, o Glorioso tira um coelho - pronto, está bem, um frango... - da cartola:).    

01
Dez08

Somos o 1º

Pedro Fonseca

Tinha previsto escrever um texto sobre a minha “ideia” de Benfica. O tema obrigava a algum tempo de reflexão, a que não me submeti, e a alguma investigação, que por falta de tempo negligenciei. Esta temática fica, assim, para posterior momento.

 

A semana, aliás, foi marcada pelo desastre de Atenas. O que, curiosamente, me fez recuar até à minha infância, ao momento onde, pela primeira vez, senti fervilhar dentro de mim a chama imensa e percebi com absoluta nitidez que só podia ser benfiquista. Foi em 1971, tinha 8 anos, e o Benfica tinha acabado de perder por 4 – 1, em Munique, contra o Bayern.
As derrotas, mesmo as mais pesadas, são muitas vezes, detonadoras de catarses necessárias. Porque será que as guardamos mais tempo no nosso subconsciente? Serão elas a verdadeira prova da nossa fé inquebrantável? Será que o orgulho ferido nos faz mais fortes, mais determinados? Será que da humilhação nasce a revolta?
Será, com certeza, tudo isto. Mas, o certo é que não sou nem mais nem menos benfiquista depois de Atenas, nem isso ocorreu depois de Vigo. As derrotas, mesmo as mais pesadas, são meros episódios de uma história gloriosa, de feitos e conquistas. Sem elas, não havia nenhum apelo: “levanta-te e caminha”. Não havia o gesto de sacudir o pó da camisola, levantar a cabeça, encher o peito de ar e lançar, de novo, o ataque.
Hoje à noite, na Luz, vamos receber os nossos heróis, de Atenas e de Nápoles, e mostrar-lhes que é nas derrotas que se veêm os campeões. Hoje à noite, na Luz, contra o Vitória de Setúbal, vamos regressar ao nosso lugar, ao primeiro lugar, certos de que é nas derrotas, mesmo as mais pesadas, que arranjamos, de novo, forças para retomar o trilho que fez a nossa história: o caminho da vitória. Somos o Primeiro.

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