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Jul08
Ainda a entrevista de LFV
Pedro Fonseca
Já passaram 4 dias, mas os ecos da entrevista de Luís Filipe Vieira (LFV) à RTP, na passada quinta-feira à noite, ainda se fazem sentir. Desde logo porque ao anunciar que o Benfica vai reforçar o plantel, fez crescer água na boca aos milhões de benfiquistas, a juntar ao facto de, no dia seguinte, Quique Flores ter vindo acrescentar que estão “nomes sonantes” para chegar. Mais do que a análise ao jogo-treino com o Estoril, onde actuamos com uma terceira equipa (salpicada de 2/3 possíveis titulares), é a entrevista a LFV que me interessa ainda escalpelizar. E só agora tenho oportunidade de o fazer aqui.
Desculpem se o tema possa não ser muito actual, mas tratando-se do Presidente do Benfica, as suas palavras vão marcar o curto/médio prazo da vida do clube. Vamos então a isso.
1. Os reforços: depois de Aimar vêm ainda mais jogadores de primeira linha. Prometeu o Presidente e Quique Flores colocou a fasquia bem alta. O que é que isto quer dizer? Simples: que ter finanças em ordem e credibilidade financeira não significa desleixar a gestão desportiva. Pelo contrário, só tem sido possível ao Benfica suportar o afastamento da Liga dos Campeões e consequente perda de milhões de euros e, mesmo assim, avançar para contratações sonantes como a de Aimar e para o reforço do plantel, porque a casa está de ordem. E esse mérito deve-se à actual Direcção do Benfica, mas principalmente a Luís Filipe Vieira.
2. A “guerra” Benfica – FC Porto: afinal, revelou Vieira para espanto de muitos, o Benfica, na sua opinião, não devia ocupar o lugar dos portistas na “Champions”. Caíram-lhe em cima, acusaram-no de hipocrisia e oportunismo. Saio em sua defesa, apesar de defender que o Benfica devia ir à “Champions” se a UEFA assim o decidisse.
a) Ao dizer que a decisão de não ocupar o lugar do FC Porto seria colectiva, Vieira não faz mais do que responsabilizar todos os dirigentes eleitos do Benfica, que estão ali não só para ocupar as cadeiras, e vincar a génese democrática do clube. Uma decisão dessas nunca poderia ser assumida unicamente pelo líder;
b) Com esta revelação, Vieira acabou por fazer uma crítica velada mas contundente à época desportiva do Benfica, e não sacudiu a água do capote;
c) O “timing” para este anúncio não podia ser outro que não fosse o fim do processo nas instâncias da UEFA, sob pena de o Benfica sair penalizado.
Uma última nota, que terá passado despercebida a muitos. Num tempo de crise económica e financeira nacional, com os salários em atraso aos jogadores a dominarem o dia-a-dia das equipas e dos clubes, como denunciou o Sindicato, o Presidente do Benfica disse alto e bom som que o clube cumpre religiosamente os seus compromissos salariais com os atletas. Se isto não é boa gestão desportiva, digam-me o que é boa gestão desportiva?
Post-Scriptum: Afinal, Rui Costa não ficou fechado no gabinete. O acompanhamento do quotidiano do plantel; a proximidade diária com os jogadores; as conversas que vem mantendo, à vista de todos, com os atletas; a sua presença constante nos treinos – um comportamento exemplar de um grande jogador, de um grande homem e de um grande director desportivo.