TER SENTIDO DE ESTADO
Nos dias de brasa em que vivemos, não pelo calor que regressou em força, mas pela crise em que estamos mergulhados, os sinais que continuamos a ver emitidos pelas principais instituições políticas do País são de molde a duvidar da sua capacidade para nos guiar entre a tempestade até atingir porto seguro.
Se a sua credibilidade já anda pelas ruas da amargura, os nossos políticos parecem apostados ainda a arrastarem-se mais na lama, numa altura em que nós, pobres contribuintes, ansiamos por uma estratégia e por um rumo.
O que é que o futebol tem a ver com isto? Nada, ou tudo… O Parlamento, casa da democracia, devia dar o exemplo. Mas os nossos parlamentares não olham a meios para se cobrir de ridículo.
Cumprindo uma vergonhosa tradição, os parlamentares afectos ao fc porto acham-se no direito de agendar repastos para um espaço que deve (devia) estar reservado a outras dignidades.
Um espaço que é público, sem senhor, mas que é de todos nós – e que não pode ser utilizado para encontros de fins inconfessáveis. Nem já vou ao ponto de invocar casos judiciais, mais ou menos concluídos, que envolvem (ou envolveram) algumas daquelas personalidades.
A casa da Democracia não serve para lavagem de imagem, nem para branquear comportamentos. Se os parlamentares azuis continuam a cometer o mesmo lapso, para gáudio dos seus convidados, alguém os devia chamar à razão. Para que serve um presidente da Assembleia da República?
Vejam o exemplo do Benfica. Os parlamentares benfiquistas vão comemorar com a Direcção do Sport Lisboa e Benfica a conquista do campeonato nacional. Não na sua qualidade de deputados, mas de cidadãos, mais ou menos anónimos.
Luís Filipe Vieira, Presidente do Benfica, teve a lucidez e a clarividência de perceber que a política e o futebol têm os seus espaços próprios. E um convívio entre dirigentes de um clube de futebol e deputados da nação, em virtude de um título de campeão, não deve ocupar o espaço nobre do Parlamento.
O sentido de Estado que os deputados não tiveram, teve-o Luís Filipe Vieira. Às vezes é o futebol a dar o exemplo à política.