A Playstation e a RTP Memória
Nasci quando ano de 1959 já sossegava. Quem é de boas contas já percebeu que fiz cinquenta anos no final do ano passado.
Sou um pronunciado do Norte, bracarense pelo lado materno, amarantino pelo lado paterno. Mas nos anos sessenta e setenta que são contemporâneos da minha formação escolar, o que estava a dar, para quem como eu gostava de ganhar, era o Benfica.
Benfica que nunca nenhum dos da minha geração sentiu como um Clube de Lisboa. Pelo contrário, era um clube popular e transversal a todas as gerações, geografias, sensibilidades e estratos sócio-culturais.
Era também o Clube maioritário dos meus colegas de Escola e de Liceu, feitos em Leça da Palmeira e Matosinhos, respectivamente.
Vejo hoje, tristemente, alguns deles a trocar de camisola por um incompreensível impulso regionalista. Julgo que é mais preconceito regionalista que em nada engrandece os que, como eu, gostam muito da terra onde foram criados.
Igual preconceito existe e deve ser denunciado em relação a alguns Benfiquistas de Lisboa que tomando o Clube de forma “literal” dão razão aos ditos “regionalismos” porque não entendem esta dimensão popular e universal que o Benfica teve e tem. A que faz dele o maior Clube de Braga, do Norte, de Lisboa, de Paris e, provavelmente,… do Mundo.
Não fiz bem as contas mas, ao contrário do meu Filho, eu vivi durante um tempo em que o Benfica e o Porto se equivaleram. Na primeira metade da minha vida o Benfica foi claramente hegemónico. Ao contrário nas últimas duas décadas e meia.
Nos últimos tempos foram-nos “martelando” os ouvidos com uma cassete que berrava que nós éramos um Clube que já não se lembrava de ganhar. E para além do “embuste” da teoria democrática (não há matriz social mais popular e democrática que a do Benfica) ouvimos muitas vezes aquela lengalenga do Clube que só ganha na Playstation ou na RTP memória.
Estou muito convencido de que depois de tempos difíceis, que contaminaram a própria Organização do Clube, o Benfica tem a oportunidade de voltar a Ser.
Fui dos que critiquei esta Direcção, principalmente pelas responsabilidades que nunca quis assumir dos insucessos dos últimos 4 anos. Mas sou o primeiro a reconhecer que o Benfica mudou. Para melhor.
E, provavelmente, conquistou o futuro.
Relegando, como penso se provará no Domingo, a Playstation e a RTP Memória, que passarão a ficar guardadas para os nossos adversários.
António de Souza-Cardoso