OS COMENTADORES
Hoje em dia o futebol também se joga muito nos estúdios de televisão. Em quatro estações de televisão (Porto Canal - programa “A Bola é Redonda”; SIC – “O Dia Seguinte”; RTP – “Trio d´Ataque”; e TVI – “Prolongamento”), os 3 maiores clubes do futebol português têm comentadores que representam as suas cores.
Não são, por isso, comentadores independentes, nem se pretende que sejam objectivos e imparciais – e isso faz toda a diferença. Estão ali para defender o seu/deles clube e é isso que lhes pedem os adeptos.
(Recentemente, um novo canal, Q, lançou também um programa deste tipo. Apesar do Benfica estar representado por uma pessoa que admiro e estimo, Leonor Pinhão, não me posso para já pronunciar porque apenas o visualizei por breves minutos).
Quanto ao Porto Canal, evito também juízos de valor por nele participar. Vamos aos restantes. Dizia eu que estes comentadores estão ali com uma única função: defender os superiores interesses do Sport Lisboa e Benfica.
Não estão ali nem para serem simpáticos, nem objectivos, nem imparciais, nem supostamente diplomáticos ou para defenderem a sua imagem. Durante muitos anos vi o “Dia Seguinte” e a verdade é que muitas vezes não me sentia confortável, como sócio e adepto do Benfica, com o desempenho de Fernando Seara. Sempre achei que ele colocava à frente da defesa dos interesses do Benfica a defesa de outros interesses. Achava eu e achavam muitos benfiquistas.
Seara transferiu-se para a TVI, para o programa “Prolongamento”, onde faz companhia a Pôncio Monteiro (fcp) e Eduardo Barroso (scp). Deixei de o ver com tanta frequência, mas admito que, com o Benfica em alta, lhe seja mais fácil argumentar.
Quem o substituiu foi Sílvio Cervan. Conheço-o bem e sou seu amigo. À partida, carregava 3 desvantagens: era vice-presidente do Benfica, o que se traduzia, na prática, numa limitação institucional; ia lidar com duas “velhas raposas” do ecrã, Guilherme Aguiar (fcp) e Dias Ferreira (scp); e as suas excelentes crónicas n´“A Bola” colocavam a expectativa dos benfiquistas muito alta.
É certo que não vejo o programa com assiduidade, por força da minha participação na “A Bola é Redonda”, do Porto Canal, mas leio sempre o Sílvio Cervan n´ “A Bola” e se há coisa de que ele não pode ser acusado é de defender intransigentemente os superiores interesses do Benfica.
Sobra António-Pedro Vasconcelos. Começo por referir que é o programa que, por razões que já expliquei, mais vejo. O “Trio d´Ataque” é composto por personalidades de grande civilidade: A-PV, Rui Moreira (fcp) e Rui Oliveira e Costa (scp).
Tenho admiração e estima por A-PV. Compreendo que muitas vezes lhe seja difícil sair de um registo mais elegante e diplomático. Os benfiquistas sentem-se orgulhosos por o terem como representante, embora eu gostasse que, aqui e ali, fosse mais contundente e menos civilizado (nomeadamente quando Rui Moreira abraça o estilo trauliteiro).
Gosto da coragem (até por viver no Porto) do Sílvio Cervan, do seu estilo apaixonado, irrequieto e, muitas vezes, brilhantemente ingénuo. Não é fácil digladiar-se com personagens como Guilherme Aguiar e Dias Ferreira. Mas o que eu não perco mesmo são as suas crónicas de senador n´”A Bola”.
Post-Scriptum: Não falei de duas outras personalidades: Manuel dos Santos e Medeiros Ferreira. Duas figuras da alta roda da política que entraram no combate desportivo sem lhes caírem os parentes no chão. O primeiro, eurodeputado do PS, foi durante algum tempo protagonista do “Dia Seguinte”; o segundo, ex-alto dirigente socialistas, representa o Benfica em programa da Antena 1, contra Alfredo Barroso (scp) e Miguel Guedes (fcp), e fá-lo com distinção.