21
Set09
UNIÃO DE FACTO
Pedro Fonseca
E vão 5 jogos, mais 3 pontos e uma postura onde se deve realçar a raça, a crença, a vontade, o empenho, o profissionalismo. Tudo atributos que estavam arredados do Benfica há muitos e muitos anos.
Claro que depois há o talento, o génio, a classe. Mas nada se faz sem suor, muito suor. Jorge Jesus é o principal responsável por este mudar de mentalidades. Ele também sua, se sua. Ele também deixa tudo em campo. Ele também calcorreia quilómetros e quilómetros.
De cima é que vem o exemplo, e os jogadores já interiorizaram isso. Muitas vezes é no simbolismo, nos rituais, nos meros gestos, que está todo um compêndio de liderança. Há muitos anos atrás, o Benfica fez um torneio na China e de lá trouxe uma novidade em termos de saudação aos adeptos.
Quando todas as equipas entravam em campo e saudavam os espectadores de braços no ar, o Benfica encenou uma nova coreografia: de mãos dadas, os jogadores baixavam a cabeça, virando-se para uma e para outra das bancadas centrais.
Essa saudação ficou até aos dias de hoje e é mais um símbolo da "mística" e da "marca" Benfica, que nos identifica como um clube diferente de todos os outros, no mundo inteiro. Agradecer aos adeptos, corresponder ao seu apoio e, principalmente, respeitá-los é uma obrigação dos jogadores do Benfica.
Na altura do torneio da China era Borges Coutinho o Presidente. É neste contexto que Jesus obriga os jogadores a no fim de cada jogo agradecerem o apoio, a paixão, o esforço (físico e financeiro de milhares deles), dos adeptos.
É uma outra coreografia que eu espero que se mantenha para sempre no Benfica. Em Leiria, a onda vermelha lotou pela primeira vez o estádio da União. Jesus sublinhou isso no final do encontro, naquele registo que ele não dispensa de lançar palavras elogiosas aos benfiquistas.
Faz bem. Sabe que sem os adeptos, as vitórias ficam bem mais difíceis. Aliás, disse-o na conferência de imprensa: “Foram os adeptos que nos empurraram para a vitória”. Nem mais. Jesus sabe que é neles que reside uma parte substancial do sucesso do Benfica esta época.
E nós, lá do alto da bancada, gostamos de o ver, a ele Jesus, sempre em movimento, sempre a viver cada lance como se fosse o último, a correr, a gritar, a tirar o casaco, a tirar a gravata. Esta comunhão emocional entre Jesus, os adeptos e a equipa é a fórmula que nos vai levar ao título.
Julgo que estão à espera que fale do jogo. Peço desculpa aos leitores, mas remeto-os para o que escrevi no “O Inferno da Luz”. Apenas uma nota: nós sabemos, e estamos atentos, à campanha que vai ser lançada contra nós.
O penálti sobre Aimar é claro como a água. Mas mais, os que o contestam estão longe de serem paladinos da ética e não têm qualquer autoridade moral para falarem. Não recebemos lições de verdade desportiva de ninguém.