24
Ago09
LIDERANÇA(S)
Pedro Fonseca
Tinha prometido no meu último post, há uma semana atrás, escrever sobre a temática da liderança(s) – dos clubes, bem entendido. O facto de escrever à segunda-feira, ficando por isso mais em cima da actualidade futebolística, obriga-me a pedir desculpa aos meus leitores e aos leitores deste blogue.
Não vou dissertar sobre a excelente vitória do Benfica frente ao Vitória de Guimarães (fi-lo no meu blogue pessoal - "O INFERNO DA LUZ"), mas sobre algo que julgo que irá ter importância decisiva no futuro do futebol português e, em particular, dos 3 grandes clubes – Benfica, Sporting e FC Porto: as lideranças. Aliás, já está a ter…
Nos últimos dias, alguns factos marcaram o panorama futebolístico nacional. Curiosamente, ou não, passaram despercebidos à opinião pública. O primeiro teve a ver com uma invulgar entrevista dada à Agência Lusa.
Invulgar pelo conteúdo; invulgar pelo protagonista; invulgar pelo “timing”. Tendo sido dada à Lusa, cada um dos órgãos de comunicação social aproveitou aquilo que melhor entendeu de importante para divulgar.
Curiosamente, ou não, nenhum relevou uma afirmação: “Isto era um clube de pequena dimensão, antes de cá chegar”. “Isto” é o FC Porto e a quem se referia o entrevistado era ao senhor Pinto da Costa.
O entrevistado da Lusa chama-se Antero Henrique, director-geral do FC Porto, e rompeu com o seu estilo discreto para dar esta entrevista, em que para além do panegírico ao presidente do FC Porto, serviu para atacar o Benfica.
Curiosamente, ou não, quem mais chamou a atenção para esta “displicência linguística” de Antero Henrique foi Rui Moreira, rectificando n´“A Bola” que o FC Porto nunca foi de pequena dimensão.
Deixemos de lado a dimensão que cada um dos portistas quer dar ao seu clube (pelo menos, nós benfiquistas sabemos que o Benfica sempre foi Glorioso e de dimensão mundial, desde 1904) e centremo-nos no essencial: Antero Henrique (AH) e Rui Moreira (RM) posicionam-se para suceder a Pinto da Costa.
Ora, o FC Porto começa a ter um grave problema de liderança. A liderança de Pinto da Costa, para o bem e para o mal, formatou um FC Porto. Será sempre um outro FC Porto pós-PC. E já se percebeu que com AH será a linha dura, com RM a linha civilizada e, talvez, um FC Porto mais “nacional”, com vantagens e desvantagens.
Problema de liderança tem também o Sporting. Claramente mais grave que o do FC Porto. Aliás, é na falta dessa liderança que reside grande parte do desastre desportivo a que os sportinguistas vêm assistindo.
JE Bettencourt, personalidade cujo carácter faz falta ao futebol português, é tudo menos um líder. Julgo que os sportinguistas cometeram um erro histórico ao elegê-lo. Não está em causa a sua seriedade nem honorabilidade.
O problema é que, como os países e as instituições, os clubes precisam de líderes, respeitados, carismáticos, mobilizadores. Bettencourt não tem nenhuma dessas características. No início do mandato tentou um assomo de populismo, que não se encaixa no seu perfil. Agora, o Sporting vê regressar o fantasma da falta de militância (pouco mais de 20 mil contra o Braga está ao nível do Guimarães) e não se vê nem alma nem mística.
De falta de liderança não se pode queixar o Benfica. Em tempo de vacas magras no que aos resultados do futebol diz respeito, o clube aproxima-se dos 200 mil sócios, mobiliza os adeptos, entusiasma a nação benfiquista, enche a Luz e enche os outros campos, como se viu ontem em Guimarães.
No epicentro de todo este fervor em volta do clube, neste reacender da alma e da mística, está a liderança de Luís Filipe Vieira. Enquanto que no FC Porto e no Sporting as actuais lideranças têm os dias contados, no Benfica a actual liderança está para ficar. E recomenda-se.
Vieira é um líder mobilizador, carismático, genuíno e empolgante. Tem coragem e um discurso positivo. Galvaniza os sócios e os adeptos. E em tempo de crise não hesita em mostrar ser um gestor de créditos firmados.
Investe numa grande equipa de futebol, que dá espectáculo e que enche os estádios. No Benfica não se pensa pequeno, nem se alimenta o cinzentismo. No Benfica, o sonho é do tamanho da esperança. Vieira sabe bem o que é a mística. E alimenta-a.