No Reino de Nápoles
Nápoles, a conhecida comuna italiana da Campania, não é só famosa pela sua esplêndida Baia, que repousa azulada e tranquilamente no Mar Tirreno, nem apenas pela sofisticada ilha de Capri, o adormecido Vesúsio, as medonhas histórias da Gomorra, ou as mais beatificas memórias desse querido “San Gennaro”, cujo sangue se liquefaz á razão de duas vezes por ano.
Nápoles tem, em suma, uma história e uma memória que estão para além da relevância e da representação que dela hoje fazemos. Mas que justificam a paixão identitária dos seus concidadãos e o fervor que devotam aos seus principais ícones, só intelegível á luz desta altivez histórica e memorial.
Antes que o leitor, como a ovelhinha tosquiada da anedota, me pergunte se viemos para aqui fazer aquilo que interessa ou viemos fazer tricot (?), passo já ao futebol e ao jogo que inicia a campanha europeia do Benfica.
Não foi só a deslocação a Nápoles que sugeriu este “regresso ao passado”. Foi o facto de, tal como a cidade, o clube já ter vivido um tempo de enorme esplendor, onde não faltou o génio e a diatribe de Diego Maradona, tão adaptado ao temperamento dos “sanguíneos” napolitanos.
O Clube esteve à beira da falência em 2004, altura em que foi salvo pelo cineasta Aurélio De Laurentilis, não evitando a descida á Serie C , de onde só regressa em 2006 para, no ano seguinte, se habilitar de novo à ribalta europeia.
O clube e a cidade estão hoje muito longe do esplendor de outros tempos, mas têm nos seus “tiffosi” uma vontade, uma paixão e uma atitude revivalista que não são de menorizar.
Ao Benfica resta apenas ganhar. Porque é na Europa que se joga principalmente o valor de um Clube com o renome e a ambição do Benfica.
O valor da marca, dos jogadores e dos meios financeiros directos e indirectos que a “fortuna europeia” propicia.
Ganhar em Portugal, para além de nos afagar o ego, tem a única virtude, num mundo crescentemente globalizado, de nos permitir, ab initio, estar no principal palco europeu.
Se perdermos a Europa, perdemos, antes do tempo, mais de meia época. Perdemos também o capital de esperança que este novo ciclo legitimamente nos proporcionou.
Num Benfica que, como a “Bella Napoli”, quer fazer presente o enorme passado que teve, perder a Europa antes do tempo tem que ter inevitavelmente consequências.
E não venham os do costume, por causa desta afirmação, duvidar do meu benfiquismo.
Eu é que começo a duvidar se fazem falta ao Benfica, todos aqueles que já se habituaram a perder.
Vamos lá ganhar a Nápoles e ficamos todos amigos outra vez.
Arriverdeci!
António de Souza-Cardoso