O "Velho Benfica"
Já há alguns meses que eu não sentia vergonha do meu Clube;
Já alguns meses que eu não sentia aquela eminente vulnerabilidade de ser humilhado, até por um transeunte;
Já alguns meses que eu não recebia tantas graçolas idiotas na minha caixa de mail ou no meu telemóvel;
E, no entanto, fui cauteloso a levantar a garimpa, neste novo ciclo.
Falei em tempo de construção: para assimilar rotinas e afectos – atitude, cultura comportamental; para se ganhar estrutura e sentido estratégico – desígnio, cultura organizacional.
Mas depois, claro, quem resiste á paixão quase pueril do “menino” Rui Costa? Quem não se deixa cativar pela seriedade, juventude e ambição de Quique Flores?
E lá me deixei levar na onda do “Novo Benfica” com que tanto sonho. E, de peito feito, sai para a Rua (que saudade de sair para a Rua), e voltei à arredondar um “até os comemos!” ou alambazar um “não vejo ninguém à minha frente!”. Maldita a Hora!
Por isso é que na quinta-feira, contra uma equipe de segunda a nível europeu, num jogo decisivo para a “reconstrução” do Novo Benfica, em cai. Cai lá bem do cimo da minha vaidade e da minha esperança, levada em asas da águia para o cocuruto desse Olimpo mais Alto.
O Benfica continua adiado e isso é que nos tem que preocupar.
É verdade que é difícil sofrer 3 golos em pouco mais de 20 minutos (mas do Olympiacos??)
É admissível dizer que tivemos um golo mal anulado a Reyes e que o quinto do Olympiacos foi em vergonhoso fora de jogo (mas foi por isso??).
A verdade disse-a Quique Flores com aquela honestidade de que não sabe fugir – “Tivemos um Benfica de Papel” .
E este Benfica frágil, leve e inconsequente, lembra muito o “Velho Benfica” que nunca quisemos assumir mas que há muito que perdeu o seu instinto e a sua grandeza.
É verdade que o Benfica bateu mais fundo do que todos julgamos com Administrações desastrosas de Manuel Damásio, Vale Azevedo ou outros. Mas também aí fomos nós que nos quisemos enganar e que fizemos de “Calimero” arranjando todas as desculpas e subterfúgios para explicar o nosso insucesso.
É verdade que “Roma e Pavia não se fizeram num dia” e que fazer leva sempre mais tempo e energia do que desfazer.
É verdade que esta Direcção e este Presidente ajudaram a credibilizar e a construir a esperança Benfiquista.
Mas não está tudo bem, como nos querem fazer querer.
Falta-nos tempo e sobra-nos caminho para refazer a tal cultura comportamental e organizacional.
E é por isso que temos que ser exigentes com este Benfica. Exigir que todos: Dirigentes, Treinadores, Jogadores, Claques e Massa Associativa estejam à altura da Força e da Mística do Clube. Estejam em linha com a Esperança e a Altivez que é urgente devolver ao Benfica.
Para que nunca mais, mas nunca mais voltemos a esta sensação de impotência, de humilhação e de vergonha.
A mesma que eu vi nos olhos do meu Filho - que transbordam sempre de paixão e esperança Benfiquista.
António de Souza-Cardoso